sábado, 24 de dezembro de 2011

Poesia (9.2)

E você me tem

E você me tem
Por completo.
Todo.
Tudo.
E não temo,
Nada,
De forma alguma.

Porque o que é mais importante
Em mim
É você.
A melhor parte do que eu sou
É sua.
E eu sou muito bom por ter você
Dentro de mim;
Comigo.

E é esse amor;
Sempre esse amor;
Todo dia esse amor;
Todo dia você,
Queme faz querer,
Que me faz querer querer;
Viver.

Colho os mais doces frutos
Todos os dias.
Os frutos do nosso amor.

Queria você ontem,
Sei que vou querer você amanhã.
Mas o querer você de agora que me faz querer,
Querer viver.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Poesia (9.1)

Neve de Verão


As imagens se distorcem
Com o passar dos dias frios.
É um verão gélido.
Com poucos dias de sol,
Com muita chuva,
Com neve...
Nada do que podia se esperar
Se tornara realidade.
A primavera havia sido tão boa
Com suas flores majestosas.
Tudo da primavera agora ficara pra trás.
Não há mais aquele calorzinho
Que esquenta os ossos.
Tudo que restara é o verão e o seu frio,
Suas chuvas torrencias
E sua espantadoramente nova
Neve.

Minha visão turva
Só vê o reflexo de uma primavera
Aqui e acolá.
Nada muito estável.

Indago o que teve essa primavera de tão especial.
Acho que a saudades reinou;
O amor mesmo.
Mas um amor diferente.
Como se fosse o começo de tudo
Não o meio
Ou até mesmo o fim.
Um amor de início
Quente, de verão.
Não desse verão.
De verões passados.
Verões mortos;
Saudosos.

E a neve é a pior parte...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Poesia (9.0)

Há de Haver

Há dias em que não há dias.
Não há cor,
Não há fome,
Não há vontade,
Não há você.

Há dias em que eu não hei,
Que por não haver você
Não hei eu de querer viver.

Sinto as faltas.
Falta você, falto eu,
Faltamos nós.
Esse ridículo verbo que me força
A querer você
A querer a mim.

Esses dias sem você
São dias que não
Hei.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Poesia (8.9)

Névoa

Se você soubesse
O mal que você me faz
Quando não me responde rápido,
Quando não me trata com carinho,
Quando finge que tá tudo bem.

Quantas vezes eu já não chorei sem querer,
Perdi o apetite,
Noites sem dormir.
Quando eu penso que estou feliz
E que as coisas não poderiam estar melhores
Um simples olhar seu
Ou um silêncio
Me quebra
E me vira em lágrimas.

Me odeio por amar você.
Odeio o besta que eu sou
Perto de você.
Cada pedaço de amor
Parece não valer de nada.

Uma montanha russa inerte
Que não para de fazer o mesmo movimento
Sempre e sempre.

Desejo enfiar minhas garras cegas
No meu peito demente
E arrancar;
Dilacerar
Todo o amor que sinto,
Todo o amor que não minto,
E poder ser leve
E poder ser névoa de novo...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Poesia (8.8)

Fúria

A cólera sobe meu corpo
Como uma serpente
Dentro das minha veias.
Um ódio maciço
Chegando aos meus olhos.

Desprezo, é tudo que me fazes sentir
Vendo teu sorriso mole
De álcool e luxúria.
De traições aos sentimentos
Que um dia jurastes sentir por mim.
Sentimentos que hoje foram expurgados do meu coração
Como veneno que me corroía.

Fico verde
De ódio,
Verde como meus olhos,
De ódio.
Verde que um dia fora dito o mais belo.
Hoje só passa de mais um.

Não faria tudo de novo
E me enojo ao lembrar
Que entreguei tanto de mim
E me fiz contente com o pouco
Ou mesmo as sobras de ti.

Ainda bem que aquele “pra sempre”
Acabou.

Poesia (8.7)

Debruçado

Deitado de bruços
No chão frio
Do banheiro sujo
Com a cabeça na mão
E o coração apertado.
Terminando de escrever em sangue
Minha última carta.
Enquanto minhas mãos
Ainda suportam os requerimentos
Da mente
Que as obriga
A passar para o papel úmido
Minha dor tangível.

Não sei quanto tempo ainda me resta.
Também não sei se ainda me resta algo.
Creio que eu seja o resto.
E de resto, nada mais provavelmente me resta.

Não posso ser base,
Não tenho tanta força para segurar
Nada acima de mim.
Também não posso ser topo
Não sei ser importante o suficiente
Para estar tão acima.
Então mantenho-me regular
Mediano e extremamente comum.

E com o que ainda me resta de sangue
Tento achar meu lugar nesse mundo
Mas tudo que vejo
É o chão sujo
Desse banheiro frio.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Poesia (8.6)

A Chegada das Horas

Tossindo sangue.
Caindo.
Segurando-me em paredes mal acabadas.
Andando torto,
Sem sapatos.
Indo pra casa.
Finalmente.

Desculpe.
Tenho que ir.
A hora chegara
Há muito.

Desculpe
Deixar sua casa assim
Tão rápido.
Mas algo me chama.
Algo que eu preciso buscar.
Algo que eu tenho que aprender a amar.

Fomos grandes amigos.
Companheiros de coisas que eu nunca
Imaginara fazer.
Queria que as coisas fossem melhores.
Queria que as pessoas soubessem que foi lindo.

Desculpe-me por ter ido.
Alguém tinha que ter dado o primeiro passo.

Espero me achar de novo
E aprender a me amar como deveria ter sido.
E espero depois encontrar você
E que sejamos diferentes,
E que sejamos melhores.
E que saibamos que a hora chegara, por fim.

Poesia (8.5)

Silêncio

Silêncio gritado
Expurgado da minha garganta.
Como quem briga,
Como quem fazer uma rebelião.

Silêncio estranhado.
Máscaras velhas,
Arruinadas.
Máscaras cansadas,
Sonoras, estardalhantes.
Escandalosas e falsas.

Máscaras emprestadas
Ao longo do tempo
Que se confundiram com meu rosto.

Mas o silêncio é meu.
Sou eu quem grito essas palavras caladas.
É minha garganta que se cansa de tanto silêncio.

Minha voz me foi roubada.
E eu não tenho interesse de procurar seu ladrão.
Não tenho a mínima vontade de recuperá-la.
A mínima vontade de ter minha voz de volta.
Quero ficar calado.
Sentado.
Parado.
Esperando
Minha voz achar seu caminho de volta
À minha garganta.

Sim.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Poesia (8.4)

Espuma

Saí do mar,
Caminhei pela areia.
Cortei meus pés em rochedos,
Sangraram de dor meus olhos.

Conheci novos mundos.
Vi espelhos
Que me viram
Assustados, curiosos.

Fitei a vida que eu almejara
Há tanto.
Almejei por fim fitar a água
Salgada mais uma vez.

Quero voltar;
Cortado, calado, sem ar.
Pisar nesse mar e deixá-lo
Ser em mim;
Curar minhas pernas cansadas.

Vai arder.

Mas serei capaz de respirar
Por fim.

Quero voltar,
Voltar ao mar.

Mas se eu o fizer
Talvez espuma
Tenha sido o que me sobrou dele.
Talvez seja espuma
O que eu me torne
Ao tocá-lo de volta...

Talvez espuma seja o que eu queira me tornar...

Poesia (8.3)

Ciclo da Chuva

Uma noite inesperada;
Uma semana corrida;
Uma coruja molhada;
Um pedido sem saída.

Um ano, dez meses e uma vida.
Separados por tantos,
Unidos por poucos.

Continue andando, meu amigo,
Que a vida é pouca
E o amor é muito.

Não posso lhe dar minha mão
Se você não quiser minha vida,
Pois junto com tudo
Vem antes
Meu coração.
Deixei meu Parnasiano em seu retiro.
Trouxe ou, até mesmo, veio comigo
O mais ultra dos meus Românticos.
E é ele que toma as rédeas aqui.

Foi o meu Romântico
Que fez chover
Quando precisávamos de água.
Foi ele quem te deu aquela coruja encharcada
E é ele quem chove nas noites caladas.

Não espere nada mais do que isso
Pois de mim não terás.
Senta-te quieto na escadaria do antigo
Lugar sagrado
E chovas tuas lágrimas
Em cima de coco e prata
Pois minhas chuvas não mais
Molharão teus pés.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Poesia (8.2)

Noite Opaca

Noite opaca.
Estou deitado à sombra de uma árvore,
Estou deitado à sombra de uma esperança,
À sobra de um querer,
À sobra de uma dúvida
De um sol que está incerto
Sobre o seu nascer.

Estou imerso nessa noite,
Imerso em mim e à sobra de uma vida que tive.
À sobra de um sol que me ofuscou por muito
Mas nunca me aqueceu.

Faz frio aqui.
O vento passa rasgando meus lábios,
Estremecendo meus dedos.
Estou cego
Deitado à sombra de um eclipse eterno.

Deitado em meio a vozes
Que me dizem tudo
Menos o que eu realmente preciso ouvir.

Mergulhado nessa água turva
Inquietantemente poluída
Eu me debato.
A água não se move.
Não há ondas nessa sombra.
Não há mais ondas em mim.
Não há sequer movimento.

domingo, 11 de setembro de 2011

Poesia (8.1)

Gula

Aprendi a degustar a dor
Como quem degusta um cultuado prato estrangeiro.
De garfada em garfada
Aprecio o sabor
De noites mal dormidas.

Sou servido com classe
E moderação.
Meu paladar refinado agradece
Os novos sabores
Que de gota em gota
Preenchem minha dúvida
Com a amargura anciã.

Como paulatinamente
Tudo que me é proposto à mesa.
Entrada e prato principal
Se fundem num excesso refinado
Em que eu
E eu apenas
Sacio as vontades do sofrer.

Então satisfeito
Abraço a dor
Na velha conhecida madrugada
E deito em seu ombro
Desejando ser menos de mim
E mais dela.
Desejando comer por fim
Minhas lágrimas
E aprender a digerir a dor que cerca
Meu mundo
Há mais tempo do que o tempo pode recordar.

Esse prato de sabor amargo e sofisticado
Que me forço a gostar
Que me obrigo a apreciar
Está a se perder
E posso ver o aroma doce vindo com o vento;
Mas por enquanto
Tenho pena de mim no fim de tudo
Por querer apenas
Força a reverência a essa sofisticação dolorosa.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Poesia (8.0)

Rosa Aos Ventos

Ando demasiado preocupado
Com o que ando carregando comigo.
Que conteúdo é esse
Que me tem por inteiro
E que não me deixa ser?
Paro por segundos
Calados.
Penso no que meu cérebro sequer
Consegue formular em palavras pensadas.

Do que carrego
O que é meu?
O que é de mim?
O que é verdade?
O que está precisando ser podado?
Até que ponto eu posso podar o que carrego
Sem me cortar no caminho,
Sem destruir o que eu sou?
Como matar o veneno sem esfacelar a rosa
E deixá-la ir com o vento?

Então quando
Conseguirei eu procurar nos ares
Minhas pétalas?
Minhas pélatas por fim minhas
E por fim puras?

E onde colocarei tanta pureza?
E o que fazer com o temor,
Hesito e penso numa vontade de deixar-me
Ao vento?
Seria mais fácil perder-me de vez?

Poesia (7.9)

O Ridículo Pensamento

O ridículo pensamento;
Aquela tentativa turva
E saqueada de tentar explicar,
De tentar racionalizar
O que sinto.
O que não minto no meu íntimo.

E aquela posterior mudança de pensamento:
Por onde anda aquele amor todo?
Perdido titubeando por ruelas de luzes amareladas.
Zombando de mendigos.
Terminando garrafas de aguardente em minutos.
Montando em muros,
E os cavalgando
Como quem os rodeia,
Como quem os domina.

Até quando essa esperança vai ficar
Atrelada a minha mão
Tão fortemente
Que a dor dela me cega?

Esperança que não me deixa ver dois palmos
À frente do meu nariz torto,
Torturado.
Esperança que mostra uma menina pequena
De olhos puxados
Segurando minha perna
É a mesma esperança
Que mostra meus olhos sangrando.

Por quanto ainda esperarei
Até que entre uma viela e outra
Meu amor encontre
Minha esperança
E que se entendam sem precisar de palavras
Para explicar como as coisas devem ser?

sábado, 30 de julho de 2011

Poesia (7.8)

Duzentos e Sete Ventos

Talvez o erro tenha sido meu.
De ter gritado minha dor aos duzentos e sete ventos
E ter quisto que ela fosse abraçada
Por todos que estavam ali.

E agora eu tenho certeza que a culpa
Foi de fato minha.
Por ter extasiado do meu corpo
Toda essa dor
Que tantos abraçaram.

Mas o que fazer com essa felicidade?
Os ventos que ouviram minha dor
Deram as costas
Para qualquer sentimento
Que pudesse sair de mim.

E agora pensam que só há dor em mim...
Mas não...
Há em mim um leito de felicidade
E uma felicidade latente
Sobre um futuro
Que por mais incerto; meu.
Desejo que os ventos ouçam meu grito de euforia
E saibam que a dor se foi;
Há de voltar;
Mas não mais gritada.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Poesia (7.7)

Bússola

Perdemos o caminho
Nessa estrada destruída pelo Tempo
E por um tempo cruel.
Estrada degradada por chuvas
E sóis.

Perdemos nosso caminho
No meio de tanta floresta
Em que a fauna
Era vista a apodrecer
Enquanto corríamos
Sem a menor noção
De que destino havíamos tomado.

Nos perdemos nesse caminho
Que em dias de frio
Era lindo e branco,
Mas em dias de calor
Só víamos a paisagem vermelha coberta de orvalho,
Coberta de lágrimas do Dia.

Nos perdemos no nosso próprio caminho
Em meio aos nossos abraços noturnos,
Confidências ao pé do ouvido
E lágrimas sangradas por dentro.

Nos perdemos, por fim,
De nós mesmos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Poesia (7.6)

Celado

A cela está aberta
Mas eu me recuso a ir.
Optei por permanecer aqui.
Guardando meu lugar
Nesse cárcere.

Lembro-me de ter gritado,
Chorado,
Ameaçado muitos,
Para que me tirassem daqui.
Lembranças longínquas hoje
Que não mais me tocam
Com seus dedos.

Nunca me prenderam.
Pedi para ser guardado.
Mantido aqui,
Aquecido no seu amor
Precipitado.

E aqui permaneço;
Sem querer sair
Da minha prisão carinhosa.

A porta está aberta
Mas quem está fechado sou eu.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Poesia (7.5)

O Balanço Vermelho

Este eterno estado inerte
Está sempre
Puxando o melhor de mim;
Para um lado
E para o outro.
Como um balanço débil
De uma criança cega.

Perdido em meio ao verde
Em meio ao vermelho.
Perdido dentro do vermelho.
Vermelho sem saída.
Vermelho roxo;
Troncho.
Envergado como minha coluna exausta.
Quebrado como meus dedos calejados.
Vermelho cruel.
Vermelho da paixão,
Do ódio,
Do amor,
Da dor.
Vermelho.
Vermelho que não me deixa
Ver melhor.

A eterna dúvida
De um amor vendido,
Trocado.
Onde estarão meus feijões mágicos?
Aonde iriam me levar?
Não sei onde estou
Então não importa que caminho seguirei
Já que tenho dentro de mim
Todas as dúvidas do mundo.
Queria ter de volta
Todos os sonhos.
Mas eles se perderam.

Então continuo seguindo esse vermelho.
Nesse balanço sem fim
De inércia sofrida.
Esperando o dia de parar e descer.
Esperando por fim
Não cair.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Poesia (7.4)

Lágrimas Sonoras

Esse choro quieto;
Calminho, calminho.
Covarde, sem força.
Morto.
Já velado.

Choro no canto.
Choro baixinho, baixinho.
Não quero incomodar.
Não quero me explicar.
Não quero arranjar desculpas para tal.
Quero apenas despejar ao mundo
Pedaços de prata que anunciam meus sentimentos.

Choro rubro.
Choro pequeno.
Tímido,
Sem intensões de chamar atenção.
Choro de intensão única,
Aquela intensão que só cabe a mim.
Que responde às minhas perguntas.
Choro que ninguém pode consolar.
Porque ninguém ouve.

domingo, 3 de julho de 2011

Poesia (7.3)

Cacos e Sangue

Eu tentei demais.
Apliquei esforço,
Suor,
Choro,
Paciência.
Mas no fim não consegui.
Eu tentei proteger você
Como ninguém antes havia tentado.

Envolvi você nas minhas asas de vidro.

Mas você não via
Que o que envolvia você era o meu carinho e cuidado.
E você quebrou isso;
De murro em murro
Minhas asas partiram
E com o vidro no chão
Veio o sangue.
Sangue meu.
Um tardio sangue seu.

Se você soubesse
Que eu estava só tentando te proteger
Talvez você não tivesse esmurrado tanto,
Gritado tanto
E feito pouco de mim,
O único que ainda tentava resguardar-te
De um mundo que era conhecido por cruel.

Agora eu tenho que partir
E sinto um certo pesar por deixar você
Desprotegido.
Mas foi uma escolha sua
Estar lá fora.
Espero que você tenha feito a escolha certa
Já que não há mais possibilidade
De colar cacos e sangue.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Poesia (7.2)

Salva de Palmas

Uma salva de palmas
Pelo seu imenso esforço
Em me fazer cair.
Uma salva de palmas a você
Por ter atingido o alvo em cheio.

Quero que você seja ovacionado de pé,
Com todas as condecorações que lhe sejam cabíveis,
Por ter me deixado no chão.

Mas espere...
O que vemos ali?

Eu estou me levantando.
E o que vai acontecer com você
Quando souberem que nada daquilo era verdade?

Tenha cuidado, meu rapaz.
Você já não vai ser tão forte quando eu estiver de pé.
Você já não vai mais poder se vangloriar
De ter assassinado aquele triste poeta.

E você vai cair
E eu vou conduzir uma final salva de palmas.

Poesia (7.1)

O Verdadeiro Mar

Nenhuma onda,
Mais nenhuma,
Nenhuma mesmo
Há de me levar para lugar algum.
Não quero mais esse Mar vasto.
Não me renderei a nenhum outro turbilhão de água.

Manter-me-ei longe dessas praias.
Quero meu lugar quieto,
Sólido
E o mais seco possível.

Longe de cachos de ondas
Que possam fazer arder
Minhas feridas ainda pungentes.
Longe do Mar
Que se impõe
Como se fosse Ele a única solução para a vida.
Longe de tudo aquilo que um dia eu chamei de lar.

E se for preciso
Carregar ódio
Para sair daqui,
Eu vou carrega-lo.
Vou bebê-lo como se fosse a última forma líquida do mundo.
Vou enxertá-lo em qualquer espaço vazio que houver em mim.
E vou destruir cada centímetro de Mar
Que ainda há aqui dentro.

E dizimar todo o Mar
Que ainda insiste em me molhar.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Poesia (7.0)

A Última Cerca

Quantas vezes eu terei que morrer
Para que percebam o quão perdido eu estou?
Durante quantas poesias eu vou ter que sangrar
Para que possam me socorrer?
Quão invisível é minha dor
Aos olhos vis?

Será que o que eu temo é o novo
Ou a mera falta de segurança?

Minha cerca estava me rasgando de tempos em tempos.
Mas agora no campo aberto
Eu não sei o que faço.
Não sei para onde correr
Nessa planície que de tão madura enverdeceu.
Meus braços não conseguem nada
Por mais que se estiquem.
Por mais que eu corra
Eu não estou chegando a lugar nenhum.
E isso é bom.

Naturalmente, algum dia
Eu chegarei a algum lugar.
Mas será que eu ainda volto
Àquela cerca que por vezes,
Por muitas vezes,
Só me fez sangrar?
Será que arriscar ficar solto
Vai ter valido a pena?

É muita liberdade
Pra mim
Que sou pouco.

Quero encontrar uma cerca que me abrace
E não me rasgue a pele
E não me sangre as mãos
E que saiba o quanto eu importo.

E que essa seja a última.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Poesia (6.9)

Expurgo

Eu quero vomitar minha vida.
Expurgar tudo garganta acima
E sentir aquele alívio,
Mesmo que breve,
Dos músculos da garganta.

Colocar pra fora o que eu,
E eu somente,
Deixei entrar,
Ou às vezes,
Coloquei pra dentro
Com todo o carinho que pude.

Desintoxicar-me
Para que talvez assim
Eu possa respirar mais uma vez,
E sem tanto pesar,
A vida que me foi roubada,
Ou que eu mesmo entreguei
Sem saber a quem...
Sem sequer conhecer as pessoas.

Eu quero vomitar minha vida
Para poder gozar pela última vez
Desse alívio temporário
E me sentir talvez
Paradoxalmente
Vivo.

Poesia (6.8)

Irreversível

Agora que a casca fora quebrada
Não há mais motivo para tentar,
Ou sequer ponderar acerca,
De que estamos mais expostos
Do que nunca estivemos.

Talvez um dia desejemos,
Tão completa e sinceramente,
Que nunca tivéssemos nos conhecido,
Que talvez quem sabe
Torne-se realidade.

Isso já é, em parte, verdade.
Quando lembro o que você fez,
Quando aquelas lembranças afiadas e pontiagudas
Transpassam minha mente,
Eu não reconheço você.
A sua face na minha memória
Não condiz com o que você se tornou.
E aquele sorriso...
Ah...
Aquele sorriso...

Sinto como se cada dente,
Que naquele dia sangrento
Viu a luz lacrimosa da lua,
Cravasse-se em meu peito.
Queria poder não ter esperado tanto.
Queria poder não ter visto tanto,
Não ter visto nada.
E lançar essas imagens às chamas
É um desejo frustrado.

Já que como você sabe,
O que aconteceu foi
Irreversível.

Poesia (6.7)

Cordas

Se eu pudesse ver escorrer de você
O mesmo sangue que por muito escorreu de mim
Eu mesmo amolaria a faca
E rasgaria seu peito.

Mas você jamais teria tanto sangue para jorrar.
Você jamais suportaria.
Você não conseguiria sustentar.

E eu estou aqui
Preso,
Agarrado às duas pontas das cordas
Que um dia foram banhadas em mel.
Hoje misturadas a esse mel
Cacos de vidro afiados
Cortam, rasgam, trituram
Minhas mãos
Que só queriam
Manter essas pontas juntas.

Mas não foi possível.
Minhas mãos surradas não mais suportaram.
E as suas permaneceram com apenas leves arranhões.

E eu tive que ir.
Tive que curar minhas mãos nas lágrimas e suor
De outro,
Já que você recusou-se a curá-las.

Eu tive que ir...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Poesia (6.6)

A Forma

Foi da maneira mais errada
Que eu te amei.
Da mais altruísta
E dedicada.
Do jeito mais sem amor próprio possível.

Você anda na minha cabeça;
Faz-me perder a noção da vida.
Desse modo você pôde sugar
O que quisessem de mim.
Fez-me sofrer por estar eu certo.
Fez-me pedir desculpas por um erro seu.
Fez-me chorar a sua dor egoísta.

Faltou-me esse tempo todo
Um pequeno traço de amor
Que eu deveria ter tido por mim.
Já que todo amor que havia em meu peito
Encontrava-se em você;
Nada estava lá para que eu pudesse me apoiar.

Hoje dedico meu amor a mim
E não quero dá-lo a mais ninguém.
Quero mantê-lo aquecido e confortável aqui
Para que um dia, quem sabe,
Alguém possa merecê-lo.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Poesia (6.5)

Uma Noite Sombria

Numa noite sombria
Em que todas as estrelas
Recusavam-se a brilhar,
Eu parei e esperei morrer.
Não fora uma morte rápida,
Longe disso...
Fora a mais lenta delas.
E eu esperei...
Esperei fazeres o que tinha que ser feito.
Não conseguia tirar o meu olhar.
Não conseguia eu desviar um centímetro.

E fui morrendo aos poucos
Quando eu deveria estar
Matando-te.
Tu merecias morrer!

Naquela noite sombria
Em que todas as estrelas
Recusavam-se a brilhar,
Eu devia ter parado para te matar um pouco.
E não seria uma morte lenta,
Longe disso...
Seria a mais rápida delas.
Mas eu esperei...

Eu fui covarde,
Eu estou sendo covarde,
Por ter te deixado matar-me.
Por ainda morrer ao lembrar
Daquela noite sombria
Em que todas as estrelas
Recusavam-se a brilhar.
E ainda lembro os sorrisos,
Os teus movimentos,
As mãos de ambos dançando.

E eu fui mais covarde ainda
Por ter me deixado morrer pelos olhos,
Por ter te dado de presente minha lágrimas,
Por ter sido imensamente fraco.
E ainda por cima
Ter tido aquele último abraço
Negado.

Poesia (6.4)

Limbo

Não sei o que falar.
Não sei quais palavras usar
Para dizer aquilo que não sei o que é.
Não sei o que pensar.
Não sei o que devo ou não achar.

Na verdade, eu sei,
Mas são pensamentos confusos
E extremamente paradoxais
Que gerariam falas,
Palavras e conversas
Igualmente confusas e paradoxais.

Eu não posso esperar pra sempre;
Essa situação de limbo é muito desesperadora.
Estar sentindo fogo e gelo em demasia
Me faz ficar extasiado e inerte.

Os pesos e medidas dessa situação
Estão escondidos.
E eu simplesmente me recuso
A deixar de lado meu coração
E analisar isso Parnasianamente.

Talvez quando eu estiver certo de algo
Eu possa dar um passo para fora desse limbo...

Só não sei se chegarei ao Céu ou ao Inferno.

Poesia (6.3)

Camaleão

Não posso dar mais um passo sequer.
Aprendi desta vez.
Não posso mais dizer nada,
Minhas palavras acabaram.
Eu aprendi.

Vou pegar de volta o que é meu,
O que nasceu comigo.
Você não tomou nada,
Longe disso,
Eu lhe dei o que tinha.
Lhe dei tudo.
Mas agora peço de volta
Não com a mesma gentileza com a qual
Você recebeu.

Meu amor vai voltar
Para onde nunca deveria ter saído.
Vai preencher meu vazio de uma vez por todas.
E parar de tentar ser esse camaleão
Que se camufla com os Seus sentimentos
E vive sem saber o que era que havia em sua pele
Quando tudo começou.

Qual teria sido minha verdadeira cor?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poesia (6.2)

Poesia Derramada

Teço minha poesia em sangue.
Teço-a em exagero.
Em grandes honras as faço.
Com enormes sentimentos que sinto.
Que me dizem dramático e desnecessário.
Mas assim e somente assim
Sei escrever minha poesia
Minha.

Se não com sangue
Prefiro não tecê-la
À cuspe ou vômito.
Não seria minha.
Não seria eu.

Quando escrevo não quero
Nem preciso me esconder.
Não há essa necessidade.
Então se meu sangue te enoja
Não pare teu mundinho
De falsidades e ilusões
Para ver meu sangue derramado.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poesia (6.1)

Broken

Broken,
Fallen apart
Without conscience,
Without my old and gorgeous life,
The life that I insisted on
Keep on killing.

Broken once again;
Bleeding inside and hoping,
Hoping I could cry all this blood out.
Lying on the cold and deep floor,
Feeling that I cannot do anything more,
That I could be anywhere else but here,
And you, my dear,
And you, my babe,
Oh, you…

You are not here, darling,
You are not here with me.
You stood up long ago,
You left my iced and hard floor
For the beauty of your fake new world
And I lie here on the floor
Attached to everything that we
Once shared.

Broken one more time;
And without hope
I keep on walking,
Walking on this messed up, fake and frozen world
That once I called home
That once I called love.

domingo, 5 de junho de 2011

Poesia (6.0)

Argila

Mesmo sem vontade
Ou o mínimo querer,
Você fez de mim aquilo que quis.
Moldou minha argila virgem
Da maneira que bem entendeu.

Fez e desfez.
Construiu arranha-céus que rasgaram meus céus,
E destruiu minhas pontes com o mundo.

Elogios tecidos no algodão
Fizeram-me acreditar que eu podia lhe valer algo.
E eu que só queria uma chance
Pra provar quem eu realmente era.
As vozes que você ouvia
E ainda ouve
E talvez ouça pra sempre
Foram, são e serão
As mesmas.

Queria poder reaver minha argila virgem
E fazer dela, dessa vez, algo proveitoso,
Algo que me fizesse crescer sem dor.
Porque o que você me ensinou
Fez com que eu crescesse
Em cólera e sofrimento.

Queria poder não mais precisar disso tudo.
E comprar na venda
Uma argila nova;
Mas não me é possível.

Agora é arregaçar as mangas
E tentar fazer do seu estrago
Algo que faça sentido pra minha vida.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Poesia (5.9)

Palha Fina

É aqui que se encontra
A felicidade.
Bem nascida.
Mulher adulta já.
Experiente.
Quase que uma anciã.

E do meu outro lado
A decepção.
Carrancuda.
Curvada, cheia de cicatrizes de batalha.
Quase uma mendiga.
Jogada ao meio fio
Pedindo aquilo que não podem lhe dar.

E agarrado às duas
Eu me deito em meu colchão de palha fina
E descanso minha cabeça
Em meu travesseiro de barro.
E agarrado às duas
Eu sonho com um mundo melhor
Onde hei de viver um dia,
Onde hei de achar uma conciliação.
Onde hei de atingir uma paz inatingível.

Acordo, porém, com minha coluna torta
Quase se partindo.
Querendo descanso.
Querendo não ter acordado.
Querendo manter meu sonho
De calma e paz
Pra toda a eternidade.
E assim me levanto
Com o peso da vida nas costas;
E me arrasto aos meus afazeres
Tentando não cair mais.

domingo, 20 de março de 2011

Poesia (5.8)

O Leito da Esperança

Mancando.
Com os pés sangrando.
Apoiado em você.
Que também manca,
Também sangra.
Mesmo sangrando mais que você
Eu sigo.
Eu quero seguir.

O que quebrou lá atrás
Cortou nossos pés.
Dilacerou o que nos sobrara de apoio.
Não mais temos muletas.
Andamos agora apoiados
Um ao outro.
E minhas lágrimas caem aos montes
Tentando lavar o sangue que fora derramado
Por esse logo caminho percorrido.

Meu ombro suporta o teu peso
E o peso que tens em meus ombros
Nunca foi pequeno.
Estamos cansados...
Precisamos de água.
Andamos muito.
Paramos.

E parar talvez tenha sido o pior dos erros.
Foi como ter um pedaço de doce
Tão ínfimo e tão distante
Que nos fez querer mais.
E a dor desse doce foi tão amarga...

E agora estamos aqui
Sangrados e sujos,
Cortados e moídos
Querendo cicatrizar.
E eu tenho aqui no meu peito aberto
O leito da esperança
De que possamos,
De novo, andar.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Poesia (5.7)

Espinhos

Eu me arrependo.

Me arrependo de ter dito cada "pra sempre".
De ter olhado no fundo dos teus olhos
E dito que te amava de verdade.

Me arrependo de cada abraço,
De cada beijo,
De cada momento de intimidade.
Me arrependo de cada lágrima,
De cada gota de sangue
Que meus olhos derramaram.

Eu me arrependo
Por cada preocupação,
Cada dor de cabeça,
Cada tremor de raiva.

Me arrependo de ter entregue minha vida
E, por consequência, meu amor.

Eu me arrependo
De ter sido feliz.
Me arrependo mesmo.
Queria nunca ter conhecido tal felicidade.
Queria nunca ter provado de tal sentimento.
Preferiria morrer sem conhecer o perfume da rosa
A ter que me arriscar tocando seus espinhos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Poesia (5.6)

Eu Vi

Um sorriso coagulado no rosto,
Sangrado, ainda quase que vivo.
Cessou há pouco.
Uma lágrima trancada
Amarrada na garganta.
Um peito destroçado
Jorrando aos leões.

Um par de olhos cor de farol que
Procuram a dor ao longe.
Caçam você na multidão.
E acham.
E não queriam achar.
E não queriam ver.
E eu quis cegar tanto, tanto, tanto!
Eu quis bater.
Eu quis chorar.
Eu quis morrer.
Mas eu sorri.
Eu esperei você terminar o que estava fazendo.
Eu esperei você mentir.
Eu esperei morrer ali.
Eu sei que morri ali
E não sei como ainda estou de pé.

Poesia (5.5)

Velado

Por que eu pergunto o que não quero ouvir?
Por que eu busco o que não quero ver?
Por que eu sinto o que me faz sofrer?

Por que tentar remediar um câncer?
Pra acalmar a quem?
A dor de um doente é de quem cuida dele.
A dor de um velório é da família.
O morto não faz questão de ser sepultado.

Mas pra quem tanto sofrimento?
Pra quem tanto amor?
Pra quem tanta dor?

Sem apetite
Pra nada.
Sem força
Pra levantar.
Sem medo
De piorar.

Espero só, que algum dia, a morte de alguém
Ou algo do tipo
Me faça sentir algo pior do que eu já senti
Porque até agora
Nada foi tão ruim;
E só me parece piorar...

Poesia (5.4)

Ladrão

Você me tirou a vontade de viver.
Você me tirou a vontade de sonhar.
Você me tirou a vontade de amar.
E assim eu sigo caminhando sem rumo
No escuro que cega e tortura.

Você me deixou só.
Machucado.
Pedindo cuidado.
Você me deixou caído.
Chorando.
Querendo abrigo.

Você me tirou o futuro
E assim o meu presente
Que eu torço para se tornar logo
Um passado.

Você me tirou a vontade de viver...
E isso foi tudo.

domingo, 6 de março de 2011

Poesia (5.3)

Camelo

Rasgado.
Deixado de lado com o peito sangrando.
Calado.
Mudo.
Sem esperança de que um dia
Eu volte a ver cores.
Quase cego.
Querendo não ter vivido.
Preferindo nunca ter sido feliz
A ter que lidar com a dor de agora não ter mais nada.

Lembrar do que já foi
E saber que não mais será.
E saber ainda por cima
Que não haverá futuro,
Que não haverá ninguém,
Que meus dias serão sozinhos.

Partido em dois
Eu desejo que você se parta em mil.
E a dor de lembrar que nenhuma parte minha
Era minha.
Eu era seu.

Você não tem mais o que dizer
Porque nada do que você fez tem perdão.
Nada do que você me fez
Pode ser abrandado.
Quem morreu ontem fui eu.
Quem viu a face do inferno fui eu.
Quem está aqui escrevendo e chorando sou eu.

Andava eu como um camelo
Sedento de vida.
Caminhava sem pensar
Na minha reserva de água
Que também era sua.
E tudo secou sem que eu percebesse.
E ver você bebendo de outra água
Me fez morrer.
Eu quis cegar.
E ceguei.
Não mais vejo o nosso oásis.
Sou apenas carcaça jogada na areia vermelha.
E assim tento me levantar frágil.
Não mais tento ver você nesse deserto
Não mais tenho meus olhos furtivos
Querendo achar você na multidão.
Eu já vi demais.
Eu já senti demais.
Eu já tentei demais.
Eu já fiz o que pude.
O monstro foi esse camelo
Que me matou de sede aos poucos...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Poesia (5.2)

Lágrimas

Lágrimas derramadas em vão.
Gotas de sangue que saem de meus olhos
E correm de encontro ao chão.
Pequenas partes de mim
Que deságuam no linóleo frio.
Lágrimas choradas em vão
Lágrimas que não valem
O esforço árduo de minhas têmporas gastas.
Lágrimas que por vezes
Como asas
Levaram-me longe.

Lágrimas não choradas por mim.
De um sofrimento languido e frio.
Lágrimas choradas no calor
Da discussão mórbida.
Lágrimas de um amor.
Lágrimas mortas que por vezes não descem
Que por outras vezes me enchem a face
Que sempre me fazem pensar
Se alguém as merece.

Lágrimas que eu quero de volta
Lágrimas que nunca deviam ter ido embora
Lágrimas que me pertencem;
Revoltas e sujas hoje
Mas ainda assim
Minhas.


sábado, 29 de janeiro de 2011

Poesia (5.1)

Desarmado

Não mais luto.
Não mais me mexo.
Não mais vivo como vivia.
Estático e imóvel me encontro;
Desarmado sem nenhuma esperança.

Cansei dessa luta,
Dessa luta eterna.
Cansei de lutar pelo que não é meu.
Pelo que não é só meu.
Por esse país em que vivo
Às lágrimas.
Por essa terra que me faz ter fome.
Por esse povo que me olha com desprezo.

Joguei longe minhas armas;
Desarmei-me.
Cansei de lutar.
Desisti dessa guerra.
Meu estopim pode ser culpado
Mas nunca minha força.
Por mais que tenha sido eu
Que tenha começado todo esse derrame de sangue,
Não fui eu que cortei a garganta de ninguém,
Pois desarmado estou.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Poesia (5.0)

A Nostalgia dos Outros

E eu hoje acordei nostálgico
Querendo voltar àqueles tempos bons,
Àquelas músicas,
Àqueles filmes e bares,
Àquelas moças e rapazes,
Àqueles países.

Me surpreendi com minha nostalgia.
Eu nunca havia vivido aquilo,
Nada daquilo.
Como posso sentir-me nostálgico
Com a vida dos outros?

Mas tenho dentro de mim
Uma certeza latente
Que torna-se tristeza quando se choca
À minha realidade
Que é o querer intenso.
O querer ter vivido.
Queria poder viver aquilo mais uma vez
Mesmo nunca tendo o feito.

Sinto saudades de emoções que não são minhas.
Sinto falta de pessoas que nunca conheci.
Quero voltar a viver uma vida que não é minha.
Quero parar de sentir
Essa nostalgia dos outros.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Poesia (4.9)

Finale

E todos os carinhos
E todas as mensagens
E todos os amores e desamores
E todos os problemas
E todas as soluções
E todos os calores
E todas as irritações
E todos os beijos
E todos os beijos irritados
E todas as noites
E todos os dias
E todas as tardes
E todas as vezes de amor
E todos os filmes
E todas as músicas
E todas as séries
E todos os abraços
E todos os gritos
E todas as lágrimas
E todos os amigos
E todos os sushis
E todas as pizzas
E todos os roubos
E todas as brigas
E todas as reconciliações
E todos os créditos
E todos os silêncios
E todos os planos
E todas as filhas (ou cachorros)
E tudo...

Parece inacreditável que algo assim possa acabar um dia...