domingo, 6 de março de 2011

Poesia (5.3)

Camelo

Rasgado.
Deixado de lado com o peito sangrando.
Calado.
Mudo.
Sem esperança de que um dia
Eu volte a ver cores.
Quase cego.
Querendo não ter vivido.
Preferindo nunca ter sido feliz
A ter que lidar com a dor de agora não ter mais nada.

Lembrar do que já foi
E saber que não mais será.
E saber ainda por cima
Que não haverá futuro,
Que não haverá ninguém,
Que meus dias serão sozinhos.

Partido em dois
Eu desejo que você se parta em mil.
E a dor de lembrar que nenhuma parte minha
Era minha.
Eu era seu.

Você não tem mais o que dizer
Porque nada do que você fez tem perdão.
Nada do que você me fez
Pode ser abrandado.
Quem morreu ontem fui eu.
Quem viu a face do inferno fui eu.
Quem está aqui escrevendo e chorando sou eu.

Andava eu como um camelo
Sedento de vida.
Caminhava sem pensar
Na minha reserva de água
Que também era sua.
E tudo secou sem que eu percebesse.
E ver você bebendo de outra água
Me fez morrer.
Eu quis cegar.
E ceguei.
Não mais vejo o nosso oásis.
Sou apenas carcaça jogada na areia vermelha.
E assim tento me levantar frágil.
Não mais tento ver você nesse deserto
Não mais tenho meus olhos furtivos
Querendo achar você na multidão.
Eu já vi demais.
Eu já senti demais.
Eu já tentei demais.
Eu já fiz o que pude.
O monstro foi esse camelo
Que me matou de sede aos poucos...

3 comentários:

  1. Beeeee, que coisa linda!
    Chorei, chorei e chorei...
    o pior é que eu tô quase na mesma situação, esperando que a reserva de água não se acabe, esperando não sofrer mais, esperando acertar... esperando.
    Um beijo, meu querido, se quiser juntar essa dor, me fale. Gosto demais de você. :*

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