domingo, 11 de setembro de 2011

Poesia (8.1)

Gula

Aprendi a degustar a dor
Como quem degusta um cultuado prato estrangeiro.
De garfada em garfada
Aprecio o sabor
De noites mal dormidas.

Sou servido com classe
E moderação.
Meu paladar refinado agradece
Os novos sabores
Que de gota em gota
Preenchem minha dúvida
Com a amargura anciã.

Como paulatinamente
Tudo que me é proposto à mesa.
Entrada e prato principal
Se fundem num excesso refinado
Em que eu
E eu apenas
Sacio as vontades do sofrer.

Então satisfeito
Abraço a dor
Na velha conhecida madrugada
E deito em seu ombro
Desejando ser menos de mim
E mais dela.
Desejando comer por fim
Minhas lágrimas
E aprender a digerir a dor que cerca
Meu mundo
Há mais tempo do que o tempo pode recordar.

Esse prato de sabor amargo e sofisticado
Que me forço a gostar
Que me obrigo a apreciar
Está a se perder
E posso ver o aroma doce vindo com o vento;
Mas por enquanto
Tenho pena de mim no fim de tudo
Por querer apenas
Força a reverência a essa sofisticação dolorosa.

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