sábado, 24 de outubro de 2009

Poesia (0.9)

Epitáfio Proibido

Nunca esperei tornar-me
O que me tornei.
Nunca quis ver no espelho
A imagem que vejo hoje.
Tornei-me sincero.
Sincero demais a ponto de soar
Falso e hipócrita.
Tornei-me guloso.
Guloso o suficiente a ponto
De emagrecer o corpo e a alma.
Tornei-me mulher.
Mulher suficiente para ser
Repreendido por não mais querer
Ser menina.

A vida fez de mim o que quis;
o que bem entendeu...
Fez de mim uma mulher
Sincera e gulosa por fim.

E no meu caixão não virá escrito:
“Foi poeta -sonhou- e amou na vida”.
Quem há de escrever meu epitáfio
Não será nenhum poeta romântico;
Hão de ser pessoas vazias
Que mal saberão as meras regras do português;
Essas pessoas com quem tive
Que lidar; morar; mal-viver...

E são essas mesmas pessoas
Que haverão de velar
Meu caixão.
Por isso me mantenho;
Vivo!

Para não ser obrigado
A ver com olhos
De outro mundo,
Essa gente a sentir minha falta.

Essa gente que hoje não me deixa ser
Essa mulher sincera e gulosa
Que já nasci sendo.

Culpem a Deus esse Defeito.
Não culpem a quem amo.
Culpem, por fim, a vida;
Foi ela que fez de mim o que sou...

Nenhum comentário:

Postar um comentário