quinta-feira, 23 de junho de 2011

Poesia (7.2)

Salva de Palmas

Uma salva de palmas
Pelo seu imenso esforço
Em me fazer cair.
Uma salva de palmas a você
Por ter atingido o alvo em cheio.

Quero que você seja ovacionado de pé,
Com todas as condecorações que lhe sejam cabíveis,
Por ter me deixado no chão.

Mas espere...
O que vemos ali?

Eu estou me levantando.
E o que vai acontecer com você
Quando souberem que nada daquilo era verdade?

Tenha cuidado, meu rapaz.
Você já não vai ser tão forte quando eu estiver de pé.
Você já não vai mais poder se vangloriar
De ter assassinado aquele triste poeta.

E você vai cair
E eu vou conduzir uma final salva de palmas.

Poesia (7.1)

O Verdadeiro Mar

Nenhuma onda,
Mais nenhuma,
Nenhuma mesmo
Há de me levar para lugar algum.
Não quero mais esse Mar vasto.
Não me renderei a nenhum outro turbilhão de água.

Manter-me-ei longe dessas praias.
Quero meu lugar quieto,
Sólido
E o mais seco possível.

Longe de cachos de ondas
Que possam fazer arder
Minhas feridas ainda pungentes.
Longe do Mar
Que se impõe
Como se fosse Ele a única solução para a vida.
Longe de tudo aquilo que um dia eu chamei de lar.

E se for preciso
Carregar ódio
Para sair daqui,
Eu vou carrega-lo.
Vou bebê-lo como se fosse a última forma líquida do mundo.
Vou enxertá-lo em qualquer espaço vazio que houver em mim.
E vou destruir cada centímetro de Mar
Que ainda há aqui dentro.

E dizimar todo o Mar
Que ainda insiste em me molhar.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Poesia (7.0)

A Última Cerca

Quantas vezes eu terei que morrer
Para que percebam o quão perdido eu estou?
Durante quantas poesias eu vou ter que sangrar
Para que possam me socorrer?
Quão invisível é minha dor
Aos olhos vis?

Será que o que eu temo é o novo
Ou a mera falta de segurança?

Minha cerca estava me rasgando de tempos em tempos.
Mas agora no campo aberto
Eu não sei o que faço.
Não sei para onde correr
Nessa planície que de tão madura enverdeceu.
Meus braços não conseguem nada
Por mais que se estiquem.
Por mais que eu corra
Eu não estou chegando a lugar nenhum.
E isso é bom.

Naturalmente, algum dia
Eu chegarei a algum lugar.
Mas será que eu ainda volto
Àquela cerca que por vezes,
Por muitas vezes,
Só me fez sangrar?
Será que arriscar ficar solto
Vai ter valido a pena?

É muita liberdade
Pra mim
Que sou pouco.

Quero encontrar uma cerca que me abrace
E não me rasgue a pele
E não me sangre as mãos
E que saiba o quanto eu importo.

E que essa seja a última.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Poesia (6.9)

Expurgo

Eu quero vomitar minha vida.
Expurgar tudo garganta acima
E sentir aquele alívio,
Mesmo que breve,
Dos músculos da garganta.

Colocar pra fora o que eu,
E eu somente,
Deixei entrar,
Ou às vezes,
Coloquei pra dentro
Com todo o carinho que pude.

Desintoxicar-me
Para que talvez assim
Eu possa respirar mais uma vez,
E sem tanto pesar,
A vida que me foi roubada,
Ou que eu mesmo entreguei
Sem saber a quem...
Sem sequer conhecer as pessoas.

Eu quero vomitar minha vida
Para poder gozar pela última vez
Desse alívio temporário
E me sentir talvez
Paradoxalmente
Vivo.

Poesia (6.8)

Irreversível

Agora que a casca fora quebrada
Não há mais motivo para tentar,
Ou sequer ponderar acerca,
De que estamos mais expostos
Do que nunca estivemos.

Talvez um dia desejemos,
Tão completa e sinceramente,
Que nunca tivéssemos nos conhecido,
Que talvez quem sabe
Torne-se realidade.

Isso já é, em parte, verdade.
Quando lembro o que você fez,
Quando aquelas lembranças afiadas e pontiagudas
Transpassam minha mente,
Eu não reconheço você.
A sua face na minha memória
Não condiz com o que você se tornou.
E aquele sorriso...
Ah...
Aquele sorriso...

Sinto como se cada dente,
Que naquele dia sangrento
Viu a luz lacrimosa da lua,
Cravasse-se em meu peito.
Queria poder não ter esperado tanto.
Queria poder não ter visto tanto,
Não ter visto nada.
E lançar essas imagens às chamas
É um desejo frustrado.

Já que como você sabe,
O que aconteceu foi
Irreversível.

Poesia (6.7)

Cordas

Se eu pudesse ver escorrer de você
O mesmo sangue que por muito escorreu de mim
Eu mesmo amolaria a faca
E rasgaria seu peito.

Mas você jamais teria tanto sangue para jorrar.
Você jamais suportaria.
Você não conseguiria sustentar.

E eu estou aqui
Preso,
Agarrado às duas pontas das cordas
Que um dia foram banhadas em mel.
Hoje misturadas a esse mel
Cacos de vidro afiados
Cortam, rasgam, trituram
Minhas mãos
Que só queriam
Manter essas pontas juntas.

Mas não foi possível.
Minhas mãos surradas não mais suportaram.
E as suas permaneceram com apenas leves arranhões.

E eu tive que ir.
Tive que curar minhas mãos nas lágrimas e suor
De outro,
Já que você recusou-se a curá-las.

Eu tive que ir...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Poesia (6.6)

A Forma

Foi da maneira mais errada
Que eu te amei.
Da mais altruísta
E dedicada.
Do jeito mais sem amor próprio possível.

Você anda na minha cabeça;
Faz-me perder a noção da vida.
Desse modo você pôde sugar
O que quisessem de mim.
Fez-me sofrer por estar eu certo.
Fez-me pedir desculpas por um erro seu.
Fez-me chorar a sua dor egoísta.

Faltou-me esse tempo todo
Um pequeno traço de amor
Que eu deveria ter tido por mim.
Já que todo amor que havia em meu peito
Encontrava-se em você;
Nada estava lá para que eu pudesse me apoiar.

Hoje dedico meu amor a mim
E não quero dá-lo a mais ninguém.
Quero mantê-lo aquecido e confortável aqui
Para que um dia, quem sabe,
Alguém possa merecê-lo.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Poesia (6.5)

Uma Noite Sombria

Numa noite sombria
Em que todas as estrelas
Recusavam-se a brilhar,
Eu parei e esperei morrer.
Não fora uma morte rápida,
Longe disso...
Fora a mais lenta delas.
E eu esperei...
Esperei fazeres o que tinha que ser feito.
Não conseguia tirar o meu olhar.
Não conseguia eu desviar um centímetro.

E fui morrendo aos poucos
Quando eu deveria estar
Matando-te.
Tu merecias morrer!

Naquela noite sombria
Em que todas as estrelas
Recusavam-se a brilhar,
Eu devia ter parado para te matar um pouco.
E não seria uma morte lenta,
Longe disso...
Seria a mais rápida delas.
Mas eu esperei...

Eu fui covarde,
Eu estou sendo covarde,
Por ter te deixado matar-me.
Por ainda morrer ao lembrar
Daquela noite sombria
Em que todas as estrelas
Recusavam-se a brilhar.
E ainda lembro os sorrisos,
Os teus movimentos,
As mãos de ambos dançando.

E eu fui mais covarde ainda
Por ter me deixado morrer pelos olhos,
Por ter te dado de presente minha lágrimas,
Por ter sido imensamente fraco.
E ainda por cima
Ter tido aquele último abraço
Negado.

Poesia (6.4)

Limbo

Não sei o que falar.
Não sei quais palavras usar
Para dizer aquilo que não sei o que é.
Não sei o que pensar.
Não sei o que devo ou não achar.

Na verdade, eu sei,
Mas são pensamentos confusos
E extremamente paradoxais
Que gerariam falas,
Palavras e conversas
Igualmente confusas e paradoxais.

Eu não posso esperar pra sempre;
Essa situação de limbo é muito desesperadora.
Estar sentindo fogo e gelo em demasia
Me faz ficar extasiado e inerte.

Os pesos e medidas dessa situação
Estão escondidos.
E eu simplesmente me recuso
A deixar de lado meu coração
E analisar isso Parnasianamente.

Talvez quando eu estiver certo de algo
Eu possa dar um passo para fora desse limbo...

Só não sei se chegarei ao Céu ou ao Inferno.

Poesia (6.3)

Camaleão

Não posso dar mais um passo sequer.
Aprendi desta vez.
Não posso mais dizer nada,
Minhas palavras acabaram.
Eu aprendi.

Vou pegar de volta o que é meu,
O que nasceu comigo.
Você não tomou nada,
Longe disso,
Eu lhe dei o que tinha.
Lhe dei tudo.
Mas agora peço de volta
Não com a mesma gentileza com a qual
Você recebeu.

Meu amor vai voltar
Para onde nunca deveria ter saído.
Vai preencher meu vazio de uma vez por todas.
E parar de tentar ser esse camaleão
Que se camufla com os Seus sentimentos
E vive sem saber o que era que havia em sua pele
Quando tudo começou.

Qual teria sido minha verdadeira cor?

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Poesia (6.2)

Poesia Derramada

Teço minha poesia em sangue.
Teço-a em exagero.
Em grandes honras as faço.
Com enormes sentimentos que sinto.
Que me dizem dramático e desnecessário.
Mas assim e somente assim
Sei escrever minha poesia
Minha.

Se não com sangue
Prefiro não tecê-la
À cuspe ou vômito.
Não seria minha.
Não seria eu.

Quando escrevo não quero
Nem preciso me esconder.
Não há essa necessidade.
Então se meu sangue te enoja
Não pare teu mundinho
De falsidades e ilusões
Para ver meu sangue derramado.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Poesia (6.1)

Broken

Broken,
Fallen apart
Without conscience,
Without my old and gorgeous life,
The life that I insisted on
Keep on killing.

Broken once again;
Bleeding inside and hoping,
Hoping I could cry all this blood out.
Lying on the cold and deep floor,
Feeling that I cannot do anything more,
That I could be anywhere else but here,
And you, my dear,
And you, my babe,
Oh, you…

You are not here, darling,
You are not here with me.
You stood up long ago,
You left my iced and hard floor
For the beauty of your fake new world
And I lie here on the floor
Attached to everything that we
Once shared.

Broken one more time;
And without hope
I keep on walking,
Walking on this messed up, fake and frozen world
That once I called home
That once I called love.

domingo, 5 de junho de 2011

Poesia (6.0)

Argila

Mesmo sem vontade
Ou o mínimo querer,
Você fez de mim aquilo que quis.
Moldou minha argila virgem
Da maneira que bem entendeu.

Fez e desfez.
Construiu arranha-céus que rasgaram meus céus,
E destruiu minhas pontes com o mundo.

Elogios tecidos no algodão
Fizeram-me acreditar que eu podia lhe valer algo.
E eu que só queria uma chance
Pra provar quem eu realmente era.
As vozes que você ouvia
E ainda ouve
E talvez ouça pra sempre
Foram, são e serão
As mesmas.

Queria poder reaver minha argila virgem
E fazer dela, dessa vez, algo proveitoso,
Algo que me fizesse crescer sem dor.
Porque o que você me ensinou
Fez com que eu crescesse
Em cólera e sofrimento.

Queria poder não mais precisar disso tudo.
E comprar na venda
Uma argila nova;
Mas não me é possível.

Agora é arregaçar as mangas
E tentar fazer do seu estrago
Algo que faça sentido pra minha vida.