Finde
No fim fica esse sentimento todo. Essa tristeza imensa guardada. Palavras
que secaram e não sabem mais para onde seguir. Meu desespero em apontar dedos. Minha
enorme, imensa, indiscutível tristeza guardada; que pensa no tanto que poderia ter sido feito para
que a vida continuasse caminhando. E me martelo lembrando que isso aqui é só solidão
falando.
No fim ficamos sós, sem um ao outro. Conto nos dedos as saudades, os
suspiros, as vezes em que penso em você não cabem nem em minhas mãos.
No fim
fico eu. Permaneço desnudo e ensanguentado, virado do avesso, odiando o passado
irracionalmente; tendo o futuro na prateleira empoeirando já, quase gasto está
o futuro.
No fim estão os abraços rápidos, sua cara amarrada por pequenas
meninices, as comidas frias, as músicas que não podiam ser cantadas, meu
peito enorme que queria ter te dado o mundo e você não soube querer.
No fim
sou eu quem chora na noite quente de Recife, que não tem ar-condicionado que
esfrie ou seque minha dor. A dor de tentativas frustradas. Dos desamores e
desgostos dados. Que minha inconsciência culpa você sim. Que não nego que dói
muito. Que minha dor é só minha e que ela não vai embora por medo de que sem
ela eu fique de vez completamente só.
No fim findamos. Findei. Por não aguentar
mais as birras e os trejeitos específicos que me tiravam do sério. Tive eu que
ir lá, depois de todo o arrastar sanguinolento, e terminar tudo. Como uma festa
que fracassa e ainda tenho a dor de limpar o salão. Como uma vida celebrada na
ironia.
No fim morremos, eu sei, então logo não é o fim ainda. Mas de fins em
fins morro um pouco. E nem mais posso dizer que está desgastado meu coração,
afirmo apenas que ele também se findou. Mandei para o conserto do tempo e a
minha teimosia há de regrar esse retorno. Findei-nos sim, e o faria seis vezes de
novo, para cada ano de sofrimentos e alegrias juntos. Findei-nos por não ter
outra saída. Você não me deu nenhuma.
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