sexta-feira, 3 de abril de 2015

Texto (0.2)

Finde

No fim fica esse sentimento todo. Essa tristeza imensa guardada. Palavras que secaram e não sabem mais para onde seguir. Meu desespero em apontar dedos. Minha enorme, imensa, indiscutível tristeza guardada; que pensa no tanto que poderia ter sido feito para que a vida continuasse caminhando. E me martelo lembrando que isso aqui é só solidão falando. 

No fim ficamos sós, sem um ao outro. Conto nos dedos as saudades, os suspiros, as vezes em que penso em você não cabem nem em minhas mãos. 

No fim fico eu. Permaneço desnudo e ensanguentado, virado do avesso, odiando o passado irracionalmente; tendo o futuro na prateleira empoeirando já, quase gasto está o futuro. 

No fim estão os abraços rápidos, sua cara amarrada por pequenas meninices, as comidas frias, as músicas que não podiam ser cantadas, meu peito enorme que queria ter te dado o mundo e você não soube querer. 

No fim sou eu quem chora na noite quente de Recife, que não tem ar-condicionado que esfrie ou seque minha dor. A dor de tentativas frustradas. Dos desamores e desgostos dados. Que minha inconsciência culpa você sim. Que não nego que dói muito. Que minha dor é só minha e que ela não vai embora por medo de que sem ela eu fique de vez completamente só.

No fim findamos. Findei. Por não aguentar mais as birras e os trejeitos específicos que me tiravam do sério. Tive eu que ir lá, depois de todo o arrastar sanguinolento, e terminar tudo. Como uma festa que fracassa e ainda tenho a dor de limpar o salão. Como uma vida celebrada na ironia.

No fim morremos, eu sei, então logo não é o fim ainda. Mas de fins em fins morro um pouco. E nem mais posso dizer que está desgastado meu coração, afirmo apenas que ele também se findou. Mandei para o conserto do tempo e a minha teimosia há de regrar esse retorno. Findei-nos sim, e o faria seis vezes de novo, para cada ano de sofrimentos e alegrias juntos. Findei-nos por não ter outra saída. Você não me deu nenhuma.


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