Estalos
Tenho uma poesia a escrever, mas ela não sai. Em
prosa se fazem as palavras uma vez perdidas em versos. Encontro outros números,
outros sentimentos, outros rapazes e moças perdidos como eu. Tenho um conto a
escrever, mas só versos chegam a minha mente. Não penso em histórias
fantásticas nem muros altos que só os contos contam. Penso no movimento das
minhas mãos quando escuto seu nome. E contos não são escritos sobre movimentos
de mãos. Ou são? Os meus não serão.
Escrever tornou-se a terapia que não me é
cobrada. Um momento íntimo tal qual tomar banho, fazer um café no meio da
madrugada, ouvir o barulho dos carros em sinfonia urbana ou até mesmo fazer
amor. Escrever tornou-se o que precisava tornar-se; a pausa excêntrica da minha
labuta cordial com o mundo. Então caminho em direção às letras soltas para
trazê-las à vida. Não que letras soltas não tenham vida. Um A me diz muito mais
do que muita gente já tentou compor em sintonias de horas de palavras. Mas busco
um balanço sem ritmo próprio nos meus As e Bs, também nos meus Cs.
Queria dizer tanta coisa, mas com meus
silêncios, poucos que tenham sido, aprendi a calar; consentir nunca foi meu
forte, porém há momentos de necessidade em que palavras perdem seu propósito e
ganham vida em meu rosto, meus braços, meus olhos e minhas mãos principalmente.
Minhas mãos são as janelas que meus olhos jovens não conseguem ser. Vê-se nelas
o que passei, e também por onde passaram. Por rostos desconhecidos, por
corrimões, copos e talheres e pratos e cigarros e outros copos e mais rostos
desconhecidos e alguns corpos e meu corpo e meu rosto e minhas lágrimas e meu
cabelo e sangue meu e minha respiração que não pode ser segurada.
Respirem, mãos. Segurem esse cansaço que vem à
frente, pois não há quem segure o que minhas mãos seguraram. O meu peso. Minhas
lágrimas. E todo o meu amor.
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