domingo, 5 de abril de 2015

Texto (0.3)

Estalos

Tenho uma poesia a escrever, mas ela não sai. Em prosa se fazem as palavras uma vez perdidas em versos. Encontro outros números, outros sentimentos, outros rapazes e moças perdidos como eu. Tenho um conto a escrever, mas só versos chegam a minha mente. Não penso em histórias fantásticas nem muros altos que só os contos contam. Penso no movimento das minhas mãos quando escuto seu nome. E contos não são escritos sobre movimentos de mãos. Ou são? Os meus não serão.
Escrever tornou-se a terapia que não me é cobrada. Um momento íntimo tal qual tomar banho, fazer um café no meio da madrugada, ouvir o barulho dos carros em sinfonia urbana ou até mesmo fazer amor. Escrever tornou-se o que precisava tornar-se; a pausa excêntrica da minha labuta cordial com o mundo. Então caminho em direção às letras soltas para trazê-las à vida. Não que letras soltas não tenham vida. Um A me diz muito mais do que muita gente já tentou compor em sintonias de horas de palavras. Mas busco um balanço sem ritmo próprio nos meus As e Bs, também nos meus Cs.
Queria dizer tanta coisa, mas com meus silêncios, poucos que tenham sido, aprendi a calar; consentir nunca foi meu forte, porém há momentos de necessidade em que palavras perdem seu propósito e ganham vida em meu rosto, meus braços, meus olhos e minhas mãos principalmente. Minhas mãos são as janelas que meus olhos jovens não conseguem ser. Vê-se nelas o que passei, e também por onde passaram. Por rostos desconhecidos, por corrimões, copos e talheres e pratos e cigarros e outros copos e mais rostos desconhecidos e alguns corpos e meu corpo e meu rosto e minhas lágrimas e meu cabelo e sangue meu e minha respiração que não pode ser segurada.
Respirem, mãos. Segurem esse cansaço que vem à frente, pois não há quem segure o que minhas mãos seguraram. O meu peso. Minhas lágrimas. E todo o meu amor. 

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