domingo, 24 de novembro de 2019

Poesia (30.2)

to stare

his eyes,
look.
what?
look.
so?
his eyes.

to be wowed.

to stare.
to stare into youth,
a one no longer mine,
a one no longer wanted even,
but to deeply stare into him,
his body,
his youth,
his smile,
and to see desire
coming from within.

to stare.
to, at some point, feel eyes on me.
to stare at him
and
at another point
to feel eyebrows move.
to feel and to see his eyes on me.
his eyes upon mine.
to stare and to speak.
to be spoken to.
and to see, to finally see,
how much of him was previously
on a loved one,
a loved one that no longer is,
or wants to be,
loved.

look.
his eyes.
look.
what?
they're beautiful.
oh.

sunglasses off.

quarta-feira, 31 de julho de 2019

Poesia (30.1) ou (25.7.2)

reinvenções do ar

sempre fui de chamego,
carinho,
cafuné,
coração.
nada novo.

apaixonado,
ia-me embora
seguindo o circo,
acendendo fogueira
por onde passasse;
um pedaço do amor pipocava atrás das portas
revelando-me,
caminhava firme e vendado
seguindo as trocinhas.

não há novidade.

até tu.
até tu chegares.
até tu chegares em mim.
até tu chegares em minha cama.
até tu chegares em minha cama e deitar.
até tu chegares em minha cama e deitar em meu peito.

até tu.

os fogos
que eu viria a soltar
não são tão novos assim:
vêm da minha bagagem surrada
mas minha.
nada inesperado,
nem meu medo de olhar nos teus olhos,
nem o frio na barriga
quando tua boca toca a minha.

é tudo novo na escapada com o circo
até que finalmente
desvenda-me a lona.

é tua respiração
ressoando em meu pescoço
enquanto nos vejo de dentro.
nariz com nariz.
vejo corpos altos,
encaixes que se encaixam,
emaranhados de pernas que se atravessam,
braços que abraçam forte.
sinto frio e timidez
daqui de dentro.

e respiro aliviado
sentindo o meu e o teu ar
num só.
reinvento minha respiração
aliviada sim
mas não menos trêmula.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Poesia (30.0)


poema cotidiano de amores espontâneos poetizado mas não menos prosaico

vez por outra me aparecem essas surpresas.
um rapaz vestido com uma camisa de super-homem
enquanto eu vestia uma da mulher-maravilha.
seus vinte anos contrastam meus vinte e sete.
sua altura tão próxima a minha
e ainda assim eu na ponta dos pés.
o beijo rápido casual.
o bom beijo inesperado.
daí ele tira a roupa quando eu peço pra ver suas tatuagens,
e como velhos amigos ele está só de cueca
tendo me conhecido há dez minutos.

e os beijos retornam.
a doçura dos beijos.
a vontade dos beijos.
os elogios incessantes vasculham
dos ouvidos aos corações cancerianos.
carinhos.
vibrações corpóreas de prazer.
libido.
sexo número um.
êxtase dele.
sexo número dois,
meu.

impiedosamente me vejo de dentro
sentindo a mais pulsante e genuína vontade
de gritar amor.
casual amor daquele que explode na boca
como quem morde uva,
mesmo não sendo amor ainda,
pois sabendo da responsabilidade que tal amor carrega,
sei também dos laços e nós que envolvem meu presente.

não digo nada à priori.
não revelo muito além do gozo.
mesmo o pouco sangue que sai de mim
não diz tanto do que sinto.
e sinto muitíssimo.
pouco depois os elogios voltam,
incrédulos ainda com redoma de beleza e carinho
dos estranhos tão afins.
ele diz que mal acabou o nosso encontro
e já tem vontade de me ver novamente.
olhem só.
novamente.

as horas vão-se a galope
até que o rapaz segue até a porta
e até a parada de ônibus,
ruma seu destino 
e eu volto pra casa com uma imensa vontade de dançar.
chegando ao apartamento recebo a mensagem:
"esqueci meus óculos".
abro um largo sorriso e fecho a porta.

quarta-feira, 3 de julho de 2019

Poesia (29.9)

sobrepele

quantas danças sobraram no meu repertório?
há movimento na dor.
dançam pelos
que tomados de arrepios
sussurram
marchas de liberdade.

quantos passos restam
nas sapatilhas abandonadas?
pontas firmes em meus dedos.

de longe os amados se olham com suas auras.
mordaz balé da casualidade.

estrepado caco de vidro
é o coração que carrego.

quantas peles tocam a minha
antes da tua?
há olhares nos pelos do meu corpo
clamando o teu.

paterno carinho às minhas costas
expõe-me incertezas pontuadas `à música.

quão dura é a dança finda.
quão dura é a dança finda?

domingo, 21 de abril de 2019

Poesia (29.8)

antropologia metamorfa

eu sou o vento que,
forte,
anuncia a chuva
e logo em seguida
cessa num sopro de calma.
transito ao longo dos corpos,
alargo as margens dos ouvidos,
cubro os olhos de lupas
e caminho pela nuca massageando as conversas duras.

eu sou o lobo que caça a liberdade
e num piscar de luas
uiva a solitude brilhosa.
pelos ouriçados;
patas firmes que lampejam sobre a floresta, de cima, vasta.

eu sou a safira, o rubi e a esmeralda,
cravejadas na história,
implorando a piedade de permanecer sob a terra.
arremessadas ao limo a duras penas de pele humana
tais pedras que sou
brilham o suor da dor
de ganância esbranquiçada.

eu sou o coelho escondido na cartola,
nunca aquele que a mão buscou,
mas aquele que engaiolado e subserviente
aninhou-se com cenouras nas coxias escuras.

eu sou a vida que é vista num encontro de paredes,
que brota no asfalto,
que toma o café esfriado,
que luta de manhã com olhos semicerrados
mas que, sem dúvida,
escolhe levantar.

domingo, 14 de abril de 2019

Poesia (29.7)

the bravery of the being

how exciting it is
to simply
roughly
have yourself
talking to the mirror.

Poesia (29.6)

as dúvidas que assombram também dão contraste ao caminhar

quantas mais perguntas
atropelam a linha da vida
que não há de ser vivida.

bate artística
moderada
e
inquietantemente
a música.

aprendo a reaprender, então.

os seguimentos dos sentimentos
ainda embaçados
transformam-se na simplicidade
de um sotaque,
de um orvalho,
de um tropeço no acaso;
e em breve
surpreendido há de ser o coração
junto com a completude do ser
(já que não só de coração é feito o poeta que me torno
ao passo que entorno
um copo de mim).

que grandiosa é a tolice
de me questionar
sobre minha honestidade
para com -
ninguém mais
ninguém menos -
que eu mesmo.

há tanto por vir;
há tanto quão tanto
pelas esquinas não viradas ainda,
que imensa é a cidade que construo
ao longo do caminho.
o sentimento de êxtase
pinga pelo meu queixo agora
como quem chupa fruta-suco.
e não há de haver dúvida sobre a fome
da sede
que sinto.

sábado, 13 de abril de 2019

Poesia (29.5)

incoercível

eu bato o portão sem fazer alarde
eu levo a carteira de identidade
uma saideira, muita saudade
e a leve impressão de que já vou tarde
-chico buarque


.escorre pelo meu queixo lambuzando a mesa e encrua debaixo das minhas unhas a dor que mordo e mastigo e cuspo e como do chão é dor e também boca é seiva da minha pele desaguando sem pausa sem ponto nem vírgula que não respira nem respeita meu pranto muito menos meu sono que quando viro a esquina desavisado percebo que volta de metrô bêbada saudosa com cheiro de goiaba e jasmim e vai de novo picotando meus tecidos e me deixando insone adormecer ao som dos riscos nos discos do que um dia ousei dizer amor.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Poesia (29.4)

o intransponível

cascas de mim lambem de sangue
o caminho outrora vermelho-goiaba.

há fim por todo canto.

nenhuma rosa leva nenhum vento
quando não há mais nada a ser semeado.

as direções estão esquizofrênicas;
quase sempre
deságuam na boca do meu estômago.

de vazio em vazio
mastigo dentes
aqui meus,
acolá
desconhecidos.

finda dança
agora
amanheço como quem noita.

surto súbito
finaliza,
conclui,
destrói,
e esfria
todo carinho
agridoce.

domingo, 31 de março de 2019

Poesia (29.3)

fearful poems written in lava

.missing us.

in shapeless questions
I miss us.

shall I fight for good?
will I feel hole?
will I feel whole?

in prismatic questions
I miss us.

what happened to touch?
have I felt it indeed?

in gutful questions
I miss us.

will it be enough?
will anything ever be enough?
will I
be enough?

I ask my skin
if it needs much more
than it's given.

it responds with a silent nod.

.unrecognizable femininity.

such as the wind that blows no more than hot air
there's a lack of eager within the feeling no longer felt
how could this be?
'is it time, dearest?'
she asks me gazing through the cards
'no.' 
she says through the mouth.
'is it the body, sweetie?'
she keeps questioning timeful;
'not again.'
she goes beyond the curtains
'it's the fear, is it not, darling?'
she states with unaccurate inflection.
'yes.'
'it's fear'.

.a foundation to unholinesses.

where has excitement gone to?
should I be patient?
is there any feeling
that I owe?
will I ever be certain about me?
will my light ever flash?

.¿where have the smiles i gave away gone to?.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Poesia (29.2)

os paladares ao longo dos corpos

há tantos sabores
aqui
que não vejo outro gosto
sequer sinto outro cheiro
a não ser aquele
compartilhado.

é o nosso gosto
que julgo precioso:
um outro tipo de doce;
um agridoce picante
que mostra cores intensas
à minha língua.

o amor tem outros cheiros também.
sinestesias cálidas
envolvem meus sonhos
quando dormimos juntos:
dos sustos aos beijos na madrugada
durmo melhor contigo
até quando não durmo bem.

hei de explicar melhor
talvez com o já sabido
café da manhã na cama:
aquele que trago com um pedacinho de mim –
comida e música –
sinestesia que transborda o mundano.

amor mesmo
como só o da gente –
agridoce-picante.