domingo, 21 de abril de 2019

Poesia (29.8)

antropologia metamorfa

eu sou o vento que,
forte,
anuncia a chuva
e logo em seguida
cessa num sopro de calma.
transito ao longo dos corpos,
alargo as margens dos ouvidos,
cubro os olhos de lupas
e caminho pela nuca massageando as conversas duras.

eu sou o lobo que caça a liberdade
e num piscar de luas
uiva a solitude brilhosa.
pelos ouriçados;
patas firmes que lampejam sobre a floresta, de cima, vasta.

eu sou a safira, o rubi e a esmeralda,
cravejadas na história,
implorando a piedade de permanecer sob a terra.
arremessadas ao limo a duras penas de pele humana
tais pedras que sou
brilham o suor da dor
de ganância esbranquiçada.

eu sou o coelho escondido na cartola,
nunca aquele que a mão buscou,
mas aquele que engaiolado e subserviente
aninhou-se com cenouras nas coxias escuras.

eu sou a vida que é vista num encontro de paredes,
que brota no asfalto,
que toma o café esfriado,
que luta de manhã com olhos semicerrados
mas que, sem dúvida,
escolhe levantar.

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