segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Poesia (24.8)

Soluços

A solidão soluça mais à noite.

De dia fica quietinha,
Banhada pela luz do sol
Que entra tímida
Pelas janelas do apartamento
Que aos poucos vai chamando de casa.

Sorridente
A solidão vai à cozinha,
Prepara um café extraforte,
Ajeita um prato molhado,
Rega as plantas do amigo,
Troca a areia da gata,
E volta pro quarto.

A solidão cozinha direitinho.
Gosta de descobrir receitas
Em rápidos vídeos,
Tenta ser o mais saudável que pode,
Compra queijos,
Perfuma uns filezinhos com páprica doce.
O almoço é gostoso.
É na hora do jantar que ela fica frenética.

A solidão caminha até a janela da sala,
Fuma um cigarro desatenta,
Acende um incenso,
Liga o som colorido,
E chora.
Ah, mas como a solidão chora!
Ela se abraça em soluços altos.
A solidão enxuga suas lágrimas
Nas almofadas;
Molha a noite com seus soluços.

Os vizinhos não estão em casa,
Estamparam as noites confortavelmente sozinhas
Para que a solidão pudesse ser livre.

Ainda bem!

Imagina só
Se a solidão se vê
Acompanhada.

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