domingo, 28 de novembro de 2010

Poesia (4.6)

Peso Morto

E é nessas horas que eu descubro
Que não sou nada.
Que tudo que eu pensava ser verdade um dia
Tornou-se mentira num momento de raiva.
Gloriosos momentos de raiva
Que me fizeram ver a verdade!
Verdade essa me sangra o pescoço,
Como uma galinha velha
Pronta para se tornar alimento
Para aqueles que não merecem sobreviver
Do meu sangue.

Então desse mesmo modo
Toda a minha confiança se esvai.
Toda a minha maquiagem borrada
Parece mais destorcida ainda,
Como se eu não tivesse tido tempo
Para sequer modelar minha base.

Morto e deixado de lado
Com minhas um dia belas nádegas à mostra,
Eu, fora do meu corpo,
Vejo passarem os transeuntes.
Também machucados,
Também sofrendo,
Também almejando a morte,
Mas nenhum deles no chão.
Nenhum deles está nu,
Debruçado em lama flácida
Que me envolve e aquece.

Se um dia eu puder voltar;
Se um dia eu for capaz
De mostrar a que vim
Espero que esse dia seja ontem.

Poesia (4.5)

Verde Verde

O meu problema foi ter apressado as coisas
Desde o começo.
Eu fui apressado demais
Pra tudo.
Me apressaram também.
Cresci depressa;
Perdi muita coisa
Perdi minha infância envolvido em pensamentos
Que não eram meus.
É como se a vida tivesse me empurrado pra frente, sabe?
O problema é que eu não sei mais
Como é ter a minha idade biológica.
Desaprendi a ser imaturo.
Imaturo comigo mesmo.
Não que eu seja o mais maduro sempre,
O mais sensato.
Mas é o melhor que eu posso ser.

Eu fico pensando
Se alguém no mundo
É suficiente pra mim.
Se há alguém que possa me mudar.
Se há alguém que possa me completar.
Que possa me fazer feliz.
Que possa ser perfeito pra mim.
Perfeição não existe.
Mentira!
Quero que alguém perfeito
Me resgate da minha vida medíocre
E me faça ver o bom da vida.

Estou esperando há tanto...
Apressei tudo
Na esperança de poder ver logo.
Na esperança de ter tudo que é preciso antes de todo mundo.
Apressei ou fui apressado?
Quero ver o fim de algo que não sei como começou...
E isso me mata.
E isso me faz acelerar mais e mais.

Como se aprende a morrer se não se soube sequer nascer
Quanto mais viver?


sábado, 27 de novembro de 2010

Poesia (4.4)

Agridoce

Eu quero beijar você
E sentir o gosto agridoce
Da sua derrota.
E ver você no chão
Vai ser o meu maior prazer.

Você é cego
Você é aquele cego que escolhe não ver
Aquele cego que prefere deixar passar
Você não quer enxergar.
E eu não quero ficar do lado de um assassino
Que mata às cegas.

Você nunca vai me ver chorar.
Você nunca vai ver uma lágrima sequer
Ir de encontro ao chão.
Não por sua causa.
Você não merece sequer minha saliva.
E só você não percebe que sem mim
Você vai morrer só.

Você mentiu.
Você distorceu a sua realidade.
Mas não venha querer que eu mude a minha
Só para que você se sinta confortável.
Meu príncipe em seu cavalo branco
Morreu há tempos
E que Deus o guarde
Pois eu não tenho a intenção de ver
Nenhum morto andando pela minha vida,


domingo, 7 de novembro de 2010

Poesia (4.3)

Solo Só

A felicidade se rui por fim
Chegada a noite tenra.
E um dia que se fazia bom
Se faz agora perverso e obcusro.

Minha vida se mostra um solo denso.
É só cavar um pouco que o sangue jorra farto.
E jorra destruindo tudo
Jorra forte e determinado a derrubar tudo que me mata.
E aos poucos eu morro mesmo.
Morro sim.

Eu sou uma tragédia.
Trágico, trágico, trágico.
Continuo a me mover com sangue nos olhos
Tentando enxergar para onde vou
E se é que vou de fato.
Para onde caminham por mim
Já que não me movo com liberdade.

Quero esquecer muita coisa antes
De tentar tapar com suor e lágrimas
Meu solo aberto e exposto.
Quero que muitos se destruam e saiam
Da minha lavoura.
Quero escolher o que planto
Quero escolher o que colho.
E quero antes de mais nada
Saber onde piso.

E ao primeiro sinal de sangue
Quero correr longe
Pois acho que não aguento outro derrame como esse...


Poesia (4.2)

Esquerdos

Não tenho direitos.
Tudo que faço são deveres.
E eu que só queria ser feliz...

Logo eu que já levei tanta felicidade
E tantos sorrisos
A tanta gente
Não posso sorrir.
Não posso ser feliz.
Perdi esse direito há tempos.
Perdi até a vontade, diria
De tentar ser feliz.
Perdi meus desejos e alegrias,
Deixei-os em algum lugar.
Não joguei-os, nem me desfiz deles.
Antes que eu pudesse perdê-los
Eles foram tirados de mim
Brusca e avassaladoramente
E eu não posso fazer mais nada.

Permaneço inerte a tudo que me circunda
E guardo em mim
O sentimento de esperança
E que talvez um dia
Eu ache meus direitos num baú velho
Escondido embaixo da minha própria cama
Empoeirados
Mas ainda assim meus...


Música (0.6)

A letra fala por si.


Nicest Thing
Kate Nash


All I know is that you're so nice
You're the nicest thing I've seen
I wish that we could give it a go
See if we could be something

I wish I was your favorite girl
I wish you thought I was the reason you are in the world
I wish my smile was your favorite kind of smile
I wish the way that I dress was your favorite kind of style
I wish you couldn't figure me out
But you'd always wanna know what I was about

I wish you'd hold my hand when I was upset
I wish you'd never forget the look on my face when we first met
I wish you had a favorite beauty spot that you loved secretly
'Cause it was on a hidden bit that nobody else could see

Basically, I wish that you loved me
I wish that you needed me
I wish that you knew when I said two sugars, actually I meant three
I wish that without me your heart would break
I wish that without me you'd be spending the rest of your nights awake
I wish that without me you couldn't eat
I wish I was the last thing on your mind before you went to sleep

All I know is that you're the nicest thing I've ever seen
And I wish we could see if we could be something
And I wish we could see if we could be something



sábado, 6 de novembro de 2010

Poesia (4.1)

Seguro

O que me segura?
O que me impede?
Estou preso a correntes que não vejo
Estou atrelado a pensamentos que não pensei
Estou morrendo aos poucos de um veneno
Que não sei se é meu.

Talvez minha ânsia por ser feliz
Me faça pensar que sempre consigo aguentar mais um pouco,
Que eu consigo suportar mais uma semana
Até que eu venha a ser feliz de novo.
Mas de que adianta
Ser feliz só nos fins de semana?

Quero uma vida plena e completa.
O problema é saber quais peças me completam.
Acho que poucas.
Minhas lacunas são difíceis de serem completadas.
Tem que ter jeito, manha, insistência.
E nem toda peça vai suprir
Minhas lacunas.

E eu não sei o que estou fazendo
Continuando a jogar com você...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Poesia (4.0)

Expectativas

Espero que estejamos juntos
Quando o nosso sol se puser.
Espero ainda que estejamos sóbrios
Quando precisarmos voltar a pé para casa
Na calada da noite.
Espero mais que isso,
Espero que sejamos felizes quando
Não houver mais finais felizes nos cinemas.

Torço para morarmos juntos
E ver o tempo passar devagar;
E torço para aproveitarmos
Cada segundo com amor,
Até mesmo os teimosos momentos de dor
Eu torço para que aconteçam
Para que só assim
Saibamos como a vida deve ser vivida
E ainda assim nos amarmos nas manhãs frias.

Então por fim
Quero que tudo isso se realize
Sem que eu tenha que derramar uma gota de sangue.
Mas que sim, tenhamos derramado todo o nosso suor e paixão.
E que isso nos sirva de lição:
Que o nosso sangue nunca deve ser derramado em vão
E que quando o for feito
Que seja para selar o amor.


Poesia (3.9)

Giro Só

Mostre-me o seu sol, por favor,
Antes que eu cegue;
Que não tenho outra opção
A não ser ser apenas um girassol.
Mas não quero ser uma flor perdida
Seguindo um eclipse que nunca cessa.
Quero ver você desde o nascer
E nunca o quero vê-lo morrer.
Mas por brilhar tanto, e para tantas
Será que você verá meu talo
Fazer malabarismos para seguir-te?

Fuja comigo!
Ou apenas arranque-me pelas raízes
E arranque-me rápido,
Rápido para que eu não sofra.
Não quero ser uma flor chorosa,
Não é o meu propósito.
Quero seguir o seu sol
E apenas o seu.
Quero ser sua flor, sua única flor.
E se um dia
Eu cegar e nunca curar,
Quero que cegues também.
Não desejo o mal, me entenda.
Apenas quero que olhes para mim,
E cego, que eu seja a única flor com a qual você sonha.

E talvez um dia,
Por vontade própria ou por mero acaso
Eu pare de seguir o seu sol.
Saiba que você não é o único sol do nosso universo;
Ele é infinito até onde me contaram.
Então, cuide de mim.
Pois meu talo cansado tenta fazer o máximo
Para seguir-te dia após dia.
E se um dia meu talo quebrar
Com o esforço
Ele não voltará a seguir o seu sol.
Sou flor sim
Mas não sou estúpida.
Hei de aprender o meu erro
E talvez um dia
Um outro sol me conquiste...


terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poesia (3.8)

Água Rubra

Os pulsos cortados
Deságuam no chão frio de linóleo
Minha dor antes latente
Agora branda.
Calmo e pálido
Eu caminho com dificuldade,
Não posso cair,
Pois não há no que me apoiar,
Não há quem vá me segurar.

De joelhos eu caminho
E deixo atrás de mim
Um rastro de sangue e dor
Que mostram a quem quiser saber
Onde eu estou indo.
Ando para o oeste,
Mas não há quem se interesse em saber para onde vou,
Esse interesse falso fora deixado de lado há muito.

Verde é a grama que cura meus joelhos.
Me arrasto até não haver mais dor em mim,
Me arrasto para longe daqui,
Para um lugar melhor.
Verde é a grama que me cura a alma.

Agora já sem vida, caio na grama verde,
Verde que me cura e me mostra quem sou.
Que eu valho algo.

Fecho os olhos para sonhar.
Sonho com uma vida nova,
Sonho em ser grama um dia
Em ser Verde...