segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Poesia (3.4)

Deixe-me

Deixe-me.
Apenas deixe-me.
Eu gosto disso tudo.
Gosto do meu livro rasgado,
Do meu disco arranhado,
Da minha cara amassada,
Do meu osso partido,
Do meu coração...
Eu gosto dessa tristeza.
Eu gosto de ouvir Deus rindo às minhas costas
Irônico.
Então, deixe-me.
Apenas deixe-me aqui a definhar.
Eu não pedi para ser salvo.
Eu não pedi para ser socorrido.
Eu nunca pedi sua ajuda.
Eu não estou esperando meu príncipe
Num cavalo branco.
Eu estou esperando a morte.
E sei que ela virá.
É a minha única certeza...

Eu quero ficar aqui
Exatamente como você me conheceu
Exatamente como você me viu sempre:
Ao chão.
Quero ser visto de cima,
Parecer inferior.
Me faz bem.

Eu gosto da solidão.
Dos meus cubos de açúcar
Que só eu vejo como doce.
Eu gosto da minha tela rachada
Que mostra uma imagem honesta.
Eu gosto do meu espelho em cacos
Porque só assim
Eu vejo
Quem eu realmente sou.

Apenas deixe-me...

domingo, 15 de agosto de 2010

Prosa (0.2)

Um zumbido grosso e repetitivo inundava meus ouvidos ao passo que eu chegava à porta do quarto 107 do hotel. Eu tentava frustradamente me acalmar a força, o que resultava numa agonia maior ainda. Eu sabia que ela estaria ali. Eu sabia com quem ela estaria. E eu sabia o que estaria fazendo. O som compassado que eu ouvia aumentando era o som dos meus batimentos cardíacos. Espero que ele não falhe agora.

Parei. Parei à porta. O cheiro da raiva era agridoce. Era como se eu soube que algo meu, algo que eu prezava muito, estava prestes a se esvair. Era como se eu estivesse parado à porta do suicídio. Não um suicídio que iria me levar a óbito, mas algo que me deixaria em coma por um certo tempo. O maior dos fracassos pra mim seria não morrer por completo. Entretanto, eu não estava ali para morrer. Eu estava ali para matar. Matar aquilo que me corroía e que um dia eu chamei de amor.

Coloquei minha mão fria, trêmula e amarga na maçaneta abaloada da porta e girei...




Continua...

Poesia (3.3)

Deusa dos Mares

A Deusa dos Mares perdera os seus poderes
E vinha em minha direção.
Ela estava fria e dura,
Quase morta.
Tragédias aconteceram em seu reino.
Sua vida estava por um fio.
Dois guardas sereianos a seguiam
Mas todo o esforço que eles fizeram fora em vão,
Também eles morriam.
E ela olhava o céu
Como quem olha um filho morto.


A Deusa dos Mares estava morrendo.
E ela morria em meus braços;
Com meu corpo acalantando-a...
Eu que não era mais do que um mero humano
Segura o corpo de uma Deusa em meu colo...
Esse meu colo feito de pecado
Tentava pela última vez
Dar a vida.

Tenho a Deusa dos Mares em meu colo...



sábado, 14 de agosto de 2010

Poesia (3.2)

Morcego

Não faça!
Por favor, não faça!
Se for pra ver isso tudo
Ser jogado na minha cara
Como cobrança depois,
Não faça!
Não quero sua esmola pequena.
Não preciso da sua humilhação.
Não preciso disso.

Não me jogue fora
Pra depois sacudir a poeira
E pedir desculpas.
Toda vez que eu caio
Meus ferimentos aumentam
E nem sempre
Os sanativos que você usa
Os cura por completo;
Os sara.
Se for me jogar no chão mais uma vez
Pense que talvez essa possa ser a última.

Não quero ter que rastejar por você
Toda vez que me vir necessitado.
Não quero ter que saber que eu sou apenas
Um a mais
E nada mais...
Eu quero mais.
Mais de você.
Mais de mim.
E se eu não for suficiente...
Me jogue no chão mais uma vez.
Eu sempre volto...
Eu sempre volto machucado...
Mas eu sempre volto...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Poesia (3.1)

Questionário

Por mais que eu faça
Nada parece importar.
Nada que vem de mim
Parece ter algum significado.
O que vem de fora
Parece ser melhor.
Como se meu sangue
Que é o seu
Fosse sujo.
O que é de casa nunca se faz presente.
Presente.
Presente dado por mim.

O que eu tenho que fazer
Pra ouvir da sua boca
Que eu sou tudo que importa?
Por que eu tenho que ouvir elogios a outros
Se aos meus ouvidos
Nenhum elogio chega?
Por que eu tenho que sofrer
Quando você está errado?
Por que eu tenho que dizer
Quando você está errado?
Eu odeio tantos “por quês”.
Porque eu te amo.
Esse porque explicativo
Talvez seja o único que me faça entender
Porque eu ainda vivo...

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Poesia (3.0)

Tempo Longe

Como conseguir passar um tempo sem você
Se o que eu conheço por ar
É você quem me traz?
Tudo que eu conheço
Tudo que eu amo
Tudo que eu quero pra mim
Pro resto da minha vida
Está em você.

Mas me fazer sofrer é covardia.
É como jogar fora um terço do seu prato favorito.
É desperdício
De mim.
E eu não quero me jogar fora.

Eu quero ver nos seus olhos
O futuro que eu vejo pra gente,
O futuro que só eu sei que vai acontecer
Porque eu faço o que for preciso
Pra ter você ao meu lado.

A coisa que eu mais quero
É acordar ao seu lado
E saber que a gente vai ficar juntos pra sempre,
Porque se um dia
Eu não mais pensar nisso
Eu posso parar de viver
Porque se for pra ter um futuro
Que seja sem você
Não tenho mais motivo algum pra viver.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Poesia (2.9)

O Fim Por Fim

Como impedir que uma tragédia iminente aconteça?
Como parar o tempo?
Ou até mesmo voltá-lo?
Você está morrendo dentro de mim e não há o que você
Possa fazer para impedir que isso aconteça.
Você está morrendo. E não há nada que ninguém possa fazer...
Queria poder salvar você de morrer.
Mas você está vivo.
E eu vivo em você.
Mas quando você morrer em mim
Não vai haver mais nada que se possa fazer...
Nada resolverá.
Você era tudo pra mim.
Você era o que me fazia querer acordar de manhã.

Juntos nós éramos ilimitados...
Mas hoje não há mais um “nós”.
Há um eu.
Um você.
Um eles...
E eles...
A culpa também não é deles.
A culpa não é de ninguém.
Culpe a si mesmo se quiser.
Eu não sei pôr a culpa em quem eu não acho que merece.
Juntos nós éramos ilimitados.
E hoje é melhor voarmos sozinhos.
Talvez voemos, enfim, livres...
Livres de nós mesmos...

Prosa (0.1)

Caminho

Um choro forte e compulsivo ata minha garganta. Ele não desce. Ele não desce. É como se uma grande parte de mim tivesse morrido. Sem mais nem menos. Nada morre com aviso prévio. E eu sigo caminhando. Sigo...? Tenho que seguir. Mas esse choro me ata a minha cama. A minha vida monótona de sempre. Esse choro que não me deixa ser feliz. Por que não desce? Por que não me deixa ser feliz? Por que esse choro não encontra seu próprio caminho para fora de mim. A pior das armadilhas foram aquelas que eu armei para mim mesmo. Meu choro não vai descer. Eu não saberia viver sem ele. Meu choro sou eu. Minha tristeza é só minha. E eu cuido dela como uma mãe cuida de seu filho recém-nascido. Sem ele eu não saberia viver. Eu vivo uma depressão pós-parto que não tem fim. Minha tristeza é a melhor parte de mim, e é aquela que eu mais quero ver longe. Porque talvez um dia... Talvez um dia eu consiga viver novamente. E talvez um desabafo como esse se faça útil mais na frente, e talvez ele seja um pouco mais feliz. Por agora eu sou só mais um escravo da minha falta de coragem. Preciso voltar a sofrer. Até mais...