segunda-feira, 25 de junho de 2012

Poesia (11.5)


Caminhada

Momentos seguem
Se desenrolando
Numa flácida estagnação
De uma vida
Que já acabou.

Fazendo de mim
Mais um caminhante
Na terra fria
De museus
Que abrilhantam obras
Que pintei só.

As molduras nunca estiveram
Tão roídas,
Mas ainda assim,
A despeito de todo
O estrago que fizeram
Esses vândalos,
Os quadros não se movem.

Meus passos
Parecem ser dados
Para trás.
Volto
Ébrio
Àquelas telas
Que pintei à sangue
Os rubros
E à lágrimas
Os verdes.

Telas essas que quero destruir
E deixar para trás
Junto com essa vida
Abandonada
Que deixaram pra trás.

Falto eu sair daqui.

E às vezes
É preciso dar um passo para trás
Para poder enfim
Correr.

domingo, 24 de junho de 2012

Poesia (11.4)


Do(r)mingo

O seu domingo chega
E com ele
A dor.
Sua dor.
Solidão.
E saudade.
De você mesmo.

O seu domingo chega
E com ele
O egoismo.
O seu egoísmo nato
De me querer
Como um objeto.

Espero eu fazer diferente
Nesse domingo.
E nos próximos.
Até que meu sol se ponha.
E não mais
Estar com você
Por pena
Ou vontade de voltar
Àquilo que um dia
Eu pude conjulgar no plural.

Que os domingos seus
Sejam de outro agora.
E que você rasgue
O que sobrara de mim
Em toda bruma
Que passara pelo seu mar.
Em todo ocaso
Que fora visto
Do seu horizonte.
Em todo amor
Que hoje
Chamo de dor.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Poesia (11.3)

O Pior dos Desejos

Desejo a você o pior
De todos os males.
Aquele que o fará cego
A todos os outros.
Surdo a todas as vozes.

Desejo a você
A mais forte
Das dores.
Aquela que rasga o peito
E derrama sangue
Por suas veias.

Desejo a você
A maior das quedas.
Queda essa
Da qual não se levanta
Com facilidade.

Desejo a você
O pior de tudo.
Pior esse que o fará
Ébrio de dor.

Desejo a você
O mais forte e puro
Amor.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Texto (0.1)


Amar Como Eu Amo

Amar como eu amo hoje é mais do que nunca aceitar o passado. É saber que tudo que aconteceu de bom não volta; ainda bem. Cada lágrima derramada por esse passado guarda em si a esperança de um futuro. E saber que o futuro guarda tanta coisa nova e boa, não tinha como não me fazer chorar.

Amar como eu amo é cada vez mais saber que o meu amor é meu. E o que tiver de sobras e excessos são dos outros. Não resto. Resto é o que não nos serve mais e queremos passar adiante quase que como lixo. Mas o que tiver de excesso de amor, e eu sei que tem muito, não pouparei em gastar com quem merece.

Amar como eu amo é ter a certeza de que todo dia eu posso me deparar com uma vida nova ao atravessar a rua, ao dobrar a esquina para ir pro trabalho. É ter a esperança de que tudo terá seu tempo de acontecer, e que, por mais que doa, nem tudo será felicidade e alegria.

Amar como eu amo é simplesmente amar. Tendo no horizonte o foco e a sabedoria que as estações mudam, e por mais frio que esteja fazendo nesses dias chuvosos e cinzas, as manhãs seguintes virão bronzeadas de alegria.

Amar como eu amo é aprender a aceitar o que vem de bom, e se revoltar com as coisas ruins, e sempre, sempre, sempre, querer mudar. Amar desse jeito é o oposto da estagnação. É a reciprocidade pura. É ter o conhecimento do outro. E nesse conhecimento, ter a sensatez de julgamento para toda e qualquer ação.

Amar como eu amo é saber que meu coração está aqui, em mim, mas que tem um pedacinho dele em cada pessoa que já sentiu meu amor alguma vez. É ter a certeza da melhora, e ver o prazer agridoce na dúvida do amanhã.

Ainda bem que eu amo assim e nunca hei de me arrepender disso.

sábado, 16 de junho de 2012

Poesia (11.2)


O Novo

Aquele rapaz
Deve ser feito
De sinestesia.

Meus olhos viam o gosto
Da sua pele morena.
Eu ouvia os cheiros
Como se eles falassem comigo.
Mordia sua boca e escutava
Seus dentes sugarem o ar.

Seu perfume na minha pele
Deixando um rastro
Pela minha cama
Toda.

Meus olhos
Como o Novo disse
“Irresistíveis”.
Não sei se o são
Mas naquele momento
Eles o eram.
E nós fomos.

O Novo veio,
Enfim,
Deitar em meus braços
E ver estrelas.
E pela primeira vez
Elas brilharam
À luz do sol.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Poesia (11.1)


De Uva

Esse exagero.
Meu.
Sempre meu.
Extremo.
Extremo ou nada.
Sendo o nada
Também um extremo.

Essa previsibilidade.
De cada objeto.
De cada gesto.
De cada pessoa.
De cada sentimento.

Esse eterno saber
Desse eterno marasmo.
E o tédio.
Ah, o tédio.
Pessoas tediosas.
Palavras tão tediosas
Quantos suas bocas.
Abraços tão soltos
Quanto meu cadarço mal amarrado.

E o nostálgico
Sou eu.
Pelo sentir.
Pelo sentir falta.
Pelo sentir falta
De surpresas.
Surpresas quaisquer.
As boas preferencialmente.

Balanço demente
E inerte
Vagando só.

E o nostálgico
Sou eu.
Pelo sentir.
Pelo sentir algo.
Pelo sentir sempre.
Pelo sentir sempre
Essa ausência
De surpresas.

No marasmo
Andando vago.
Esperando algo.
Esperando de pé.
Sentado.
Deitado.
Esperando o esperado.
O óbvio.

Nada mais
Chega a mim
Como surpresa.

E ainda ouço por aí
Da minha nostalgia.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Poesia (11.0)


Conta Gotas

Gota a gota
Eu deságuo
Na cerâmica.

Gota a gota
Eu seco
Meu vinho.

Gota a gota
Eu me perco
No chão.

domingo, 10 de junho de 2012

Poesia (10.9)


O Dia

Meu coração em farelos
Tão finos e pequenos
Que não posso mais
Tentar recolher
As partes grandes
E colá-lo.

Meu coração é meu.
E não quero ajuda de ninguém
Para respirar melhor.

Minto.
Quero sim.
Quero minha ajuda.
Quero minha força.

Quero distâncias.
Plurais distâncias.
Quero colocar junto
O que deve ficar.
E aprender com as quedas;
Já que foram muitas.

Só preciso de mim
E me bastando
Fico bem.
Desejo apenas
Não esperar
Toda a noite
Pelo mesmo bem.

Porque quando a lua vem
Minhas marés ficam
Agitadas.

Mas o dia sempre amanhece...

sábado, 2 de junho de 2012

Poesia (10.8)


A Queda

E eu caio.
Como se nunca tivesse caído antes
E o chão fosse novo para mim.
Arranho os joelhos
E sangro
Como se nunca tivesse
Sarado.
Aperto o barro do chão
Que se esfarela
Entre meus dedos.

Mordo a boca com força
Pensando e pensando
Se minhas quedas
Serão frequentes.

Choro.
Desespero bom esse
Que vem e vai
Mas quando vem
Parece nunca querer sair.

E de tombos em tombos
Eu venho andando
Desde que o contrato
Fora cancelado.
Queria eu
Nunca tê-lo assinado.

E essas quedas só me ensinaram
Uma coisa:
Que cair
É o primeiro passo para se levantar de vez.