sexta-feira, 12 de maio de 2017

Poesia (25.5)

Centelha

São imagens de um fim de semana
Que querem se expor
Por não caberem nos olhos.

As pernas que insistem em se emaranhar.

Os pedaços do corpo novo
Que vão ser adjetivados ao desnecessário aqui
Por não se conter na empolgação.

Poesia pobre e honesta
Tenta-se fazer sem limar o acontecido.

Perdoáveis exageros sinceros.

As mãos de dedos longos e finos,
Delicados com contrastantes pêlos escuros.

Os olhos marrons e vivos,
Doces até quando adormecidos,
Que vibram e comunicam nos breves silêncios.

A boca, ah, a boca...
Dum sorriso contagiante,
Suaves lábios que encaixam os meus
Sem pensar no mundo que gira
Maluco
Quando quem gira
Maluco
Talvez seja eu.

O peito desnudo e liso,
Macio que se opõe ao meu,
Belo pela harmonia,
Mais ainda pelo conteúdo que comprime.
O coração que bate tão rápido
Mesmo dormindo.

O cabelo de leão
Emoldura o rosto de beleza inquestionável;
Nas ondas dos cachos me perco,
No volume dos fios me dobro,
No perfume da nuca me sinto.

As noites que foram tão raras
Quanto breves.
Os encaixes naturalmente aconchegantes
Davam-se ao som de tosses.
A banalidade recontada
Nas músicas compartilhadas.
A bobagem necessária e não inovadora.

Não falo do inédito aqui,
Falo do novo.

Lugares nunca dantes visitados.
Viajante que me tornei
Dessas tuas costas que abraçam meu nariz na madrugada.
As conchas parecem certas;
E há pérolas erradas no mar?

Faço minha poesia barata
Tão cara ao meu punho
Na tentativa de dizer o que não consigo.

Falo sobre o que não sei falar.
Minha língua não é suficiente.

É no espaço entre os beijos,
É no silêncio rido que se dá
O que eu tento explicar aqui.
É na suspensão dessa realidade
Onde trocamos olhares sorridentes
Que significava toda essa poesia gasta.
É a tentativa de presentificar
O momento que me faz escrever,
É no sacrifício das horas de sono
Que se faz o combustível dessa captura;
De tal efemeridade nebulosa
Na qual se deram as noites.

E a imagem que tenho por fim é a do Ratatouille.
Do teu corpo deitado sobre meu
Que adormeceu com o balanço do som
E que se fez especial e pleno
Na sua simplicidade.

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