Intransponível
Que me atravessa
As pernas
Nos filmes.
Os ouvidos
Na noite
No papo cansado
Do dia de trabalho.
O telefone esquenta
O papo que não esfria.
Quero saber do teu dia
Pra me imaginar ali contigo
Tentando deixar a saudade
Em banho-maria, João.
É simples.
É você, eu, minha cama,
Água, ar, frio ali, calor aqui,
Meus pés, teu cabelo;
Travesseiros escritos na noite.
É simples.
É teu nome.
É simples.
Você me atravessa.
Espirra na noite, tosse,
Remexe na cama,
Encontra carinho nos meus braços
Que te cobrem e te sacodem por dentro.
É simples.
É teu carinho no meu peito,
É o encaixe das mãos,
Dos beijos,
Daquele primeiro beijo
Que durou aquela sinfonia inteira
Por não querer desgrudar.
É simples demais
O meu não querer desgrudar.
Se me dizem ao longe que sou barreira
Logo balbucio que não
Que é bobagem
E escrevo na noite o ocorrido contigo:
Cê me saltou pelo meio,
Passou como água que cede pela fluidez
Não pela força,
Amolece os tijolos de mim
Sem contar com o sal das lágrimas.
Pediu licença aos meus orgãos vitais
E atravessou meu peito
Tal qual flecha de cupido errôneo
Que traça linhas Afrodites
De uma beleza selvagem como teus cabelos.
É simples;
Fui atravessado.
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