quarta-feira, 11 de março de 2015

Poesia (21.8)

Amontoado

Faltam palavras.
Rumores desconcertados
Lavados com um banho.
A poesia não mais transborda,
Os olhos secos não choram,
A brasa que mata
Enche meu nariz de dor.
A fumaça velha
Enegreceu os olhos
Castanhos agora,
Sem malícia
Cansam-me as palavras.
Insuficientes e fracas
Saem atropeladas
De mim
Mesmo assim.
Não gotejam mais
As veias abertas,
Balançam dormentes
Meus braços estirados
Ao longo da minha existência.

Como quem espera as flores
Num inverno recém chegado
Acalanto minha preocupação
Sem anteceder qualquer dor.
Deixei de sentir as presenças
De sentimentos desse plano.

Material para escrever minha solidão
Ou meus dessabores
Faltam nas prateleira das errantes.

Gritos uivam na noite
Sem vida selvagem para reclamá-los seus.
Um amor cansado
Cheio de preposições e pronomes.

No fim das palavras
Encontro um homem abaixado,
A luz do poste saboreia suas costas,
Agachado no muro
Lamenta baixinho
E grita por mim
Sua tristeza sem fim.

Sons não são palavras.
Movimentos não contém mais sentido.

O homem recolhe as flores murchas,
Tranca uma pequena fechadura em seu peito,
Atira a mim o molho de chaves
Com mais chaveiros que possibilidades,
E se joga aos céus
Torcendo para encontrar palavras de novo,

Vejo tal homem ir embora.
Paro no muro do fim das palavras,
Tenho flores comigo,
O inverno findou,
Agacho no meio fio
E luzes tremem sobre o meu pescoço.
Procuro no molho de chaveiros
A possibilidade de trancar meu peito.

Não encontro palavras.

Sem palavras

Encontro apenas
O fim.

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