Amontoado
Faltam palavras.
Rumores desconcertados
Lavados com um banho.
A poesia não mais
transborda,
Os olhos secos não
choram,
A brasa que mata
Enche meu nariz de
dor.
A fumaça velha
Enegreceu os olhos
Castanhos agora,
Sem malícia
Cansam-me as palavras.
Insuficientes e fracas
Saem atropeladas
De mim
Mesmo assim.
Não gotejam mais
As veias abertas,
Balançam dormentes
Meus braços estirados
Ao longo da minha
existência.
Como quem espera as
flores
Num inverno recém
chegado
Acalanto minha preocupação
Sem anteceder qualquer
dor.
Deixei de sentir as presenças
De sentimentos desse
plano.
Material para escrever
minha solidão
Ou meus dessabores
Faltam nas prateleira
das errantes.
Gritos uivam na noite
Sem vida selvagem para
reclamá-los seus.
Um amor cansado
Cheio de preposições e
pronomes.
No fim das palavras
Encontro um homem
abaixado,
A luz do poste
saboreia suas costas,
Agachado no muro
Lamenta baixinho
E grita por mim
Sua tristeza sem fim.
Sons não são palavras.
Movimentos não contém
mais sentido.
O homem recolhe as
flores murchas,
Tranca uma pequena
fechadura em seu peito,
Atira a mim o molho de
chaves
Com mais chaveiros que
possibilidades,
E se joga aos céus
Torcendo para
encontrar palavras de novo,
Vejo tal homem ir
embora.
Paro no muro do fim
das palavras,
Tenho flores comigo,
O inverno findou,
Agacho no meio fio
E luzes tremem sobre o
meu pescoço.
Procuro no molho de
chaveiros
A possibilidade de
trancar meu peito.
Não encontro palavras.
Sem palavras
Encontro apenas
O fim.
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