domingo, 1 de março de 2015

Poesia (21.7)

Inerte

Das costas rasgadas
Não saem mais asas.
Não voam mais
Os sonhos de outrora.
Relento é agora
Meu braço doído
Que me é travesseiro
Nas noites claras.

A poesia enfraquecida
Já não expressa mais
Dor alguma.
Perdeu-se no emaranhado de vezes
Que tentou se escrever.
Mas sai inerte de mim
Sem que ao menos considere
As dores que poderia abrigar
Nesse fim.

Não talho
Nem mimo
Nem minhas próprias palavras
Rimo.
Ou rimo.
Sem destino.
Escrevendo por horas,
Tardes são as horas que escrevo.
Não constam em meu relógio
Todas as horas do dia.
Perdidas estão,
Oras.

Meu pescoço dói.
Meus olhos pesam.
Não é poesia o que faço,
Mas descrição sóbria
Do meu corpo enfraquecido.

Vejo os minutos mudarem de cor,
E penso se poderia estar eu
Em algum lugar chuvoso
Debaixo d’água
Pedindo para que tudo molhasse;
O gelo leva embora
O meu enjoo,
Mas deixa o meu enojo
De tudo que sofri.

Grato pela vida,
Por cada pedaço de bolo
E cada pedaço de dor
Que me foi dado.

Só não consigo escrever;
O limite da dor
Que não me transborda às palavras
Pois lágrimas não mais caem,
Nem gritos mais enlouquecem.

Puxo meu cabelo
Fio a fio
Num ato de desespero
Por sentido.
Não tenho cabelos.

Não tenho mais palavras.
Nem a mim mesmo
Eu tenho.
Passei a ser apenas
E isso é pouco.

Ser é pouco.
Queria estar mais.
Se não hoje,

Amanhã é capaz.

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