domingo, 20 de fevereiro de 2022

Poesia (30.3)

cuidado, paixão

eu te amo
e não amo mais.

estou aprendendo a não ecoar
tudo que meu coração fala.

carrego umas dores no peito,
carregamos tanto um do outro.

o que fazer quando
a vida atropela a vida?

ficou muito comigo
e restou tão pouco de mim.

a vida atropelou.

cerveja,
chá,
ou café?

bebi beijos.

não escrevo pra você,
escrevo de mim
pra gente.

dançamos na sala,
cuidamos dos nossos pés,
e dos meus joelhos.
brincamos de fazer teatro,
você levava mais jeito que eu.
brindamos pouco, mas bem.
fumei contigo quantos cigarros?
o ventilador espantando
a fumaça.

cuidamos um do outro
quando conseguimos. tanto cuidado.

e a vida atropelou a gente.
sem culpa levantamos.
estamos levantando, eu acho.
e eu ando primaveril por aí,
grato e entregue,
derramado em mim, que sou copo,
mesa e bebida da minha vida.

eu te amo
e esse amor não vai a lugar algum
mas a mim.
espalhado todo
pelo meu corpo tão amado,
minha casinha.

projeto nos meninos
a saudade que eu sinto de você.
acho que eles sentem também.
porque eu sinto.
mas se estar junto
é não estar consigo,
estar junto não faz sentido.

sigo no sentido contrário
olhando por cima do ombro ainda,
mais como quem olha fotos de uma viagem
inesquecível
do que como quem se sente ameaçado
numa rua deserta.

eu não vou cantar nenhum
réquiem;
você ainda vive em mim
enquanto segue vivo consigo.

desejo profundo me invade
desejando seu bem, meu bem.

dance bem muito,
mexa o mundo,
ganhe o mundo,
ame-se e a todo mundo.

eu amo você
enquanto sigo
amando a mim.

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