sexta-feira, 6 de julho de 2018

Poesia (28.3)

seis de julho de dois mil e dezoito e a surrealidade de estar em mim

o dia em que me olhei no espelho ao dormir
e perguntei, dançando, se havia algo ainda a ser dito.

as respostas vieram aos bolos
de maçã.

ponderei os nozes.
calculei respostas.
mas de certeza abri os olhos.

cambaleei a vista pelas fotos,
respirei fundo.

lembrei do festival de inverno de outra vida.
do cheiro do desodorante.
das caminhadas solitárias.
do meu sorriso que antevia sua chegada na praça.
lembrei de mim, principalmente.

senti falta de tantas outras fotos.
senti falta do sexo.
senti muita falta do sexo.
da banalidade frívola que tínhamos
com nossos corpos.

ergui as sobrancelhas que coçavam de raiva.
a barba também coçou.
meu corpo precisava de um irônico banho.

bebi o resto da cerveja que esquentava
como meu corpo quando em cólera.
tive vontades carnívoras canibais.
dentes rangeram sob a pele flácida.
rasgões que tinham meu gosto inflamado.

de soslaio vejo minha sombra
que sofre o cárcere marginal no qual
encontro meus antepassados.
as idades que tive
coseram-me em mim,
tal qual menino perdido
em terra nunca dantes avistada.

banho molha nuca.
banho leva raiva.

acordo inquieto dias depois dentro de outro sonho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário