domingo, 5 de fevereiro de 2017

Poesia (25.2)

Quase Sempre Amor

Às vezes o amor não sai.
Se remexe por dentro,
Mordisca seu pé na madrugada
E deita no travesseiro que sobra.

Às vezes o amor não vai.
Se enfia pelas gavetas,
Dorme no meio dos panos,
E belisca as sobras do almoço na geladeira.

Às vezes o amor não sabe.
As formas ficam sem fôrma,
As palavras se limitam na sacada,
E o bolo de maçã é o que estava lá pra dizer que era amor mesmo,
Fazendo do esforço seu presente,
Mesmo sem durar na estante.

Às vezes o amor não dura.
Se esparrama pelo chão como cerveja quente,
Treme no rosto os abusos diários,
E míngua pelo ralo junto com a água gasta.

Às vezes o amor não quis.
Comeu o café na cama,
Brincou com os pelos no peito
E saiu sem baixar a cabeça.

Às vezes o amor não vê.
Como quem guarda o meio do sanduíche pra comer por último
E ficou cheio antes do final,
Só percebe a besteira que fez quando o domingo chega,
Ou quando o calor aperta;
E resmunga saudades.

Às vezes o amor não fica.
Deixou esfriar o café
E as rabanadas já não agradam,
O carnaval sussurra baixinho
E o amor não é mais o carinho na orelha.

Mas quase sempre o amor carrega a gente
E às vezes o amor deixa levar também.

É só ir.

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