Labirinto de Ar
O ar estava pesado. Tinha um
cheiro pesado. Viscoso, de cor esverdeada. Não sabia como entrar em casa. Ou sequer
se estava seguindo em direção a uma casa. Meus olhos ardiam. O coração estava
descendo vagarosamente em direção aos meus pulsos enquanto o ar estrangulava meu
pescoço no qual minha jugular lutava bravamente.
Não quero sair daqui. Não quero
deixar tudo isso cair no estojo antigo de lápis quebrados que é o meu passado. Não
quero deixar você ir de mim. Guardei por tanto tempo você aqui que não sei o
que fazer com o pouco espaço que ocupava na minha gaveta coberto com uma fronha
antiga, dormindo todo enrolado, mas com os pés pra fora; ou no meu bolso que
carregava você aonde eu fosse.
Quero descansar. Descansar desse
pesadelo que é não ter você, ou ninguém. Desse apego que eu não sei chamar de
amor. Desse amor que eu sei que é só apego.
Não vão brilhar outras noites, vão?
Eu queria ter tido alguém como
eu; eu sinto falta de mim. Tanta falta que nem sei por onde começar a me
procurar. Lembro-me de encontrar você na praça e de não aguentar o sorriso enquanto
andava em sua direção e um abraço frio era tudo que eu tinha em troca. Não que
você não quisesse o meu calor, você apenas não podia me aquecer mais. E era
frio. E o frio se espalhou pelos meus ossos e destroçou meus olhos sangrando gelo
no meu sorriso. E hoje quando vejo você, tremo de frio.
Não podemos chamar de lar o que construímos.
O mais próximo que consigo chegar de alguma edificação do que tivemos ou mesmo
temos é um labirinto. As paredes aqui mudam de lugar, os quadros nas paredes
são fotos de viagens que na memória ficaram bonitas, mas qualquer transeunte vê
os borrões nos meus olhos. Desse labirinto preciso sair correndo, e olhe que
desaprendi a correr; seja em sua direção ou na direção oposta. Nesse labirinto
eu flutuo. O que me carrega é esse ar denso, repleto de umidade das lágrimas
que derramo ainda ao som de algumas músicas. Flutuamos, creio eu, nesse
labirinto, ao som de nós dois chorando. Que vença não o melhor, mas o mais
corajoso.
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