Amanhã
Não há personalidade alguma guardada no futuro,
apenas contradição.
Existem sim pessoas que esperam um amanhã
mágico e estrelado. Pessoas ingênuas de coração partido em pequenos cacos
perdidos no jardim de grama alta. Dentre essas pessoas estou eu. Cá,
alimentando essa magia fantasiosa do futuro.
O passado está cheio de mágoas e abraços
apertados. Também no passado se encontram famílias felizes e brigas sem
motivos. Está guardado no passado um amor estranho e brilhante, que não quero
mais. Logo fico, quando me permito olhar pra trás, tonto; desnorteado. Tanta
coisa mudou e tantas pessoas, milhares se posso eu imaginar seres humanos
matematicamente, passaram por mim. Os encontrões foram muitos também. Dessa
tontura tiro a fadiga de ter esse passado inteiro só meu. Não imaginava que
tanto fosse ser vivido por mim.
Então o presente. Lugar de reclamações e
planos. Onde sou interrompido por banhos e faxinas. Espaço que aprendi a amar
de pertinho, foi o presente. Aqui me dou meu espaço, bebo minha água, subo e
desço escadas, e por fim também durmo. Como é bom dormir.
Não quero ser levado a mal, nem muito menos mal
interpretado. Gosto muito de quem sou, do que me tornei; as decisões que tomei,
as certas e as piores possíveis, me
trouxeram a ser quem sou. A comichão que fica no peito é, na verdade,
uma ansiedade incontrolável de ver a vida toda. Isso mesmo. Tudo. Quero ver
tudo. Cada lugar do mundo, cada pessoa, beber cada suco de cada fruta estranha;
provar os mais diversos beijos, experimentar as diversas roupas que o mundo
pode proporcionar.
Mas tudo isso só vai acontecer amanhã. Hoje,
por enquanto, estou de pijamas. Já já me levanto para atender a porta, e o
amanhã há de começar. E espero que o amanhã não se torne passado tão cedo.
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