segunda-feira, 11 de maio de 2015

Texto (0.5)

Amanhã

Não há personalidade alguma guardada no futuro, apenas contradição.

Existem sim pessoas que esperam um amanhã mágico e estrelado. Pessoas ingênuas de coração partido em pequenos cacos perdidos no jardim de grama alta. Dentre essas pessoas estou eu. Cá, alimentando essa magia fantasiosa do futuro.

O passado está cheio de mágoas e abraços apertados. Também no passado se encontram famílias felizes e brigas sem motivos. Está guardado no passado um amor estranho e brilhante, que não quero mais. Logo fico, quando me permito olhar pra trás, tonto; desnorteado. Tanta coisa mudou e tantas pessoas, milhares se posso eu imaginar seres humanos matematicamente, passaram por mim. Os encontrões foram muitos também. Dessa tontura tiro a fadiga de ter esse passado inteiro só meu. Não imaginava que tanto fosse ser vivido por mim.

Então o presente. Lugar de reclamações e planos. Onde sou interrompido por banhos e faxinas. Espaço que aprendi a amar de pertinho, foi o presente. Aqui me dou meu espaço, bebo minha água, subo e desço escadas, e por fim também durmo. Como é bom dormir.

Não quero ser levado a mal, nem muito menos mal interpretado. Gosto muito de quem sou, do que me tornei; as decisões que tomei, as certas e as piores possíveis, me  trouxeram a ser quem sou. A comichão que fica no peito é, na verdade, uma ansiedade incontrolável de ver a vida toda. Isso mesmo. Tudo. Quero ver tudo. Cada lugar do mundo, cada pessoa, beber cada suco de cada fruta estranha; provar os mais diversos beijos, experimentar as diversas roupas que o mundo pode proporcionar.

Mas tudo isso só vai acontecer amanhã. Hoje, por enquanto, estou de pijamas. Já já me levanto para atender a porta, e o amanhã há de começar. E espero que o amanhã não se torne passado tão cedo.

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