domingo, 29 de abril de 2012

Poesia (9.7)


Clube dos Idiotas

Só cabe à minha poesia
Os meus sentimentos.
Só nela cabem tais palpitações
Do meu coração enegrecido.
É a partir dela
Que o meu sono chega.
É com ela que eu sou aquele que deveria ser.
Apenas a ela devo as mais obscuras satisfações.

Deveria eu, por minha vez,
Fundar logo
Um clube para idiotas.
Um clube composto somente por idiotas.
Idiotas de alto nível?
Não.
Idiotas idiotas.
Daqueles que choram,
Berram.
Idiotas que correm atrás.
Que querem e acham que podem
Resolver os seus e os problemas dos outros.

Nesse clube colocaríamos em pauta
Nossas intimidades,
Nossos propósitos,
Nossas idiotices conjuntas.
E seria em nosso clube
Que leríamos nossas bulas de rémedio
Para o coração.
Cada um com seu devido problema.
Cantariamos as mais bregas
(E por que não idiotas?)
Canções de amor.
Encenaríamos os mais belos Romeus
Encantados idiotamente
Pelas mais idotas Julietas.
Jogaríamos o nosso pôquer
Apostando quantias ínfimas,
Dinheiro sujo conseguido com um trabalho idiota
Onde somos obrigados a assinar um livro de ponto
Tão idota quanto o nosso próprio trabalho.

Seria então nesse mesmo clube
Que chorariamos juntos
Lendo em tom de epitáfio
Nossas poesia derradeira.

Nesse clube de idiotas
Seríamos todos Poetas.

sábado, 28 de abril de 2012

Poesia (9.6)


Desato

Espero que você tenha achado
O que tanto buscava.
Espero que tenha encontrado tudo
O que tanto procurava.
O que nunca fora achado em mim.
O que nunca pertencera a mim.

Espero que esteja feliz.
Espero que esteja muito feliz.
Com tudo que você tem agora.
Com toda a liberdade.
Com toda a falta de responsabilidade.

Espero que as festas estejam melhores agora.
Espero que os beijos sejam mais doces.
E os sexos mais ardentes.

E que seus sorrisos ébrios mantenham-se
Por muito, muito, muito tempo, meu caro.
Espero que todo esse mundo
Se propague para toda a sua vida
E que as pessoas possam ver quem você realmente é, por fim.

E espero nunca mais dividir com você
As lágrimas,
As vozes,
Os beijos,
A cama,
O amor.

O amor que era só meu.
Que continua sendo.
Que nunca fora seu.
E que nunca será.

Espero que tenha encontrado
De verdade
Tudo aquilo que eu nunca pude lhe proporcionar.

E espero não ouvir sua voz nunca mais.
Eu quero que a eternidade se realize nesse nunca
E que eu possa agora desprezar tudo que você é.

sábado, 14 de abril de 2012

Poesia (9.5)

Ensaio

Saia.
Tire o que for seu do camarim.
O show acabou.
Eu não consigo me mover.
Então saia.
Não deixe nada bagunçado,
Deixe tudo como você encontrou.
Novo, limpo e arrumado.

Bata a porta quando passar,
E não considere voltar por algum tempo.
Há novas peças em cartaz.
Temos um público exigente.
Corra para outro teatro.
Algum mais distante.
Ou faça uma turnê,
Quem sabe as coisas não melhoram?

Leve seu cenário,
Seus adereços,
Tudo.
Não precisamos de lembranças
De um espetáculo fracassado.

Devolva as chaves.
Quero tudo que for meu.
Não tens motivos pra ter mais nada.

E um conselho:
Ensaie mais.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Poesia (9.4)

Fantasma

O seu sorriso ébrio à meia sombra
Fazendo do resto de mim de resto.
Forçando o meu ódio.
A sua banalização desse corpo
Que era meu...
Que nunca fora meu.

O rasgo deixado no meu peito
Invisível.
Ando aos retalhos
Cobrindo buracos com gargalhadas de outros.

O seu olhar que eu tanto desprezo.
Como se eu nunca tivesse existido
E eu era tanto...
Mas eu sei que nunca fui nada.
Que era fui só mais um.
E hoje quem não passa de nenhum é você.

Eu fechei a porta daquela casa há muito.
E ordenei que a mesma fosse derrubada.
Mas você não estava lá para ver os escombros
E eu estou varrendo pedaço por pedaço
Do que um dia foi nosso...
Não.
Do que um dia foi meu.

Morei só durante vinte e nove longos meses
Nos quais fui feliz sozinho
E agora, desarrumo tudo sozinho também.
Como se você nunca tivesse existido...
E você nunca existiu.
E você nunca vai existir.

sábado, 7 de abril de 2012

Poesia (9.3)

Ciclos

O vazio.
A perda.
Eternos.
A falta.
A saudade.
O mundo aqui dentro.
Temeroso.

A cólera.
Os olhos.
Vermelhos.
As lágrimas.
Igualmente vermelhas.
Os tremores.
A mobília.
Destruída.

O sono.
O cansaço.
De tudo.

O equilíbrio.
A sensatez.
O ponto.
A chave.
O brilho.
À vida.
Nova.