quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Poesia (28.7)

hoje à noite eu mordi o amor.

ia-se escorregando pelos lábios quando prontamente o animalescos dentes correram em sua direção e lhe cortaram em pedaços disformes. as gotas mancharam a camisa branca que usava para dormir. mastiguei os nacos de amor saboreando sobre tudo o medo que levaram tais dentes ao dito ato. o lábio inferior, o mais prejudicado, já não estava mais tão surpreso; sabia dos artifícios usados pelo medo pra conter tremores futuros, e já ali também recuou em direção ao coração que palpitava. tal mordida se dera em berço de automatismo, mais ainda, em berço de singelo carinho do que se construía ao passar dos dias: no final de uma ligação cotidianamente noturna as palavras de amor quase saíram; como quem se despede do amado, o 'eu te amo' fora partido: ainda estava ali no peito, no entanto, só esperando o momento em que os dentes deixariam-no passar e transformar tal amor em banquete e não mais entrave.

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