sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Poesia (28.8)

amanhecemos

oscilantes
oscilantes
os corpos se esticam
pela manhã que os ilumina
por uma brecha mínima
da janela vedada.

levanto desperto,
apercebo miados,
caminho até a cozinha
semi vestido,
libero a porta
e deixo os sons famintos
lamberem toda a mobília.

torradas,
café,
polpa-água-peneira-açúcar-gengibre-suco-copo:
carinhos líquidos
numa bandeja materna e natural.

tropeços me devolvem ao quarto,
acaricio o adormecido rosto
com frestas maiores de sol
e beijo os ouvidos e bochechas
com o cheiro do café na cama.

a maresia de carinhos
puxa-nos pra fora
com o desejo de continuar.

o dia claro ou escuro
pouco importa
se meu coração canta contigo.

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Poesia (28.7)

hoje à noite eu mordi o amor.

ia-se escorregando pelos lábios quando prontamente o animalescos dentes correram em sua direção e lhe cortaram em pedaços disformes. as gotas mancharam a camisa branca que usava para dormir. mastiguei os nacos de amor saboreando sobre tudo o medo que levaram tais dentes ao dito ato. o lábio inferior, o mais prejudicado, já não estava mais tão surpreso; sabia dos artifícios usados pelo medo pra conter tremores futuros, e já ali também recuou em direção ao coração que palpitava. tal mordida se dera em berço de automatismo, mais ainda, em berço de singelo carinho do que se construía ao passar dos dias: no final de uma ligação cotidianamente noturna as palavras de amor quase saíram; como quem se despede do amado, o 'eu te amo' fora partido: ainda estava ali no peito, no entanto, só esperando o momento em que os dentes deixariam-no passar e transformar tal amor em banquete e não mais entrave.