domingo, 6 de maio de 2018

Poesia (27.8)

oroboros

existe um lugar
não muito longe
aonde se encaminham
os amores que não mais vivemos.

outro lugar também,
um pouco mais perto,
para os amores que foram interrompidos.

um último, e talvez precioso,
é o lugar aonde seguem
os amores que estarão por vir;
ao virar das esquinas.

vetor
origem: ETIM lat. vector,ōris 'o que arrasta ou leva'

o lugar dos amores que não mais vivemos
parece antiquado:
janelas empoeiradas,
crosta de musgo pelas paredes,
inúmeras fotografias
que se remexem ao decorrer do dia.
faz frio nesta página delineada.
o musgo infértil não vinga.
o vento flana o engodo abafado:
insistente condicionador de movimentos.
o lugar dos amores que não mais vivemos
por vezes se estreita também,
permite que as paredes andem pelos vales.
não tem teto:
chove por sobre seus ombros vez por outra.
uma casa passional.
e conforme segue
(nem sempre em frente)
a casa se apequena no horizonte.
vetor que não arrasta
sequer leva.

-

a edificação dos amores interrompidos,
por sua vez,
adorna-se no mar.

réquiem
substantivo masculino
1.prece que a Igreja faz para os mortos.

coliseu abandonado,
meias pinturas boiando no réquiem
da loucura abortada.
o portal de entrada
toma conta da sala inteira
e segue fúnebre
ao quintal.
não há cozinha.
no quarto está um micro-ondas sem prato:
nada girou aqui por muito.
umas camisinhas pelo chão
borbulham com possibilidades.
inundando a varanda
o cigarro intacto é mais cinza
que já quisera ser fogo.
nem a poesia se completa.

-

a localidade dos amores que estão por vir
estende-se coberta por um véu opaco.

possibilidade
substantivo feminino
1.condição do que é possível, do que pode acontecer.
2.substantivo feminino plural
o que faz a riqueza de alguém; posses.

a árvore aqui é semente.

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