Relegere
É relendo os poemas antigos que
eu paro pra pensar na mutabilidade que vem tomando conta de mim. Também é
nessas releituras que encontro conforto no entendimento de algumas bases e
raízes mais grosseiras que entrelaçam minhas vivências: sólidos momentos de
amor, amizades claras, uma tristezinha inerente ao ser permeia acolá também;
palavras ricas que revelam tanto de mim a mim.
Tantas foram usadas para falar de
primeiros beijos, ou de eufóricos momentos de carinho, também de hiperbólicas
paixões de verão. Faço-me terapêutico nessas leituras. Repenso esses beijos
todos, esses tantos que ainda arranham um pouco minha boca, e vejo que
certamente eu sou um entusiasta do sentir. Experiências tantas que mesmo saindo
no atropelo de sensações tão trêmulas são reveladoras.
Sorrio para partes de versos,
repenso se vale a pena ter me desnudado tanto, fomento a necessidade de ser eu
mesmo, assim como a de ser água. Alguns versos eu queria rasgar também, mas
pensar em extirpar a palavra é pensar em atear fogo a uma fotografia guardada
no fundo do meu guarda-roupa, digo-me logo um deixa ali, é parte de mim, aquele
momento da foto-palavra foi outrora digno de materialização.
Os poemas que me esclarecem as
raízes são de uma importância tremenda: é neles que eu identifico a estrutura
óssea do caminho que sigo, ou do que insisto em seguir. E me faço esse bem, me
escrevo e me leio, sem a necessidade do olhar do outro por enquanto; levo minha
arte como sei que posso: um diário de pessoalidades que compartilho comigo o
tempo inteiro, e que quando lido por mim ou por outros, ainda assim é meu, e
não sei escrever sobre nada além daquilo que me atravessa.
E nesse caminho me descubro um
bocado, dos afetos aos desamores. Das demasiadamente exageradas palavras de
amor ou dor ao mais claro desvendar do cotidiano. E é aí onde me demoro. Onde me encontro. E só sei
me demorar em mim.
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