domingo, 12 de novembro de 2017

Texto (0.8)

Relegere

É relendo os poemas antigos que eu paro pra pensar na mutabilidade que vem tomando conta de mim. Também é nessas releituras que encontro conforto no entendimento de algumas bases e raízes mais grosseiras que entrelaçam minhas vivências: sólidos momentos de amor, amizades claras, uma tristezinha inerente ao ser permeia acolá também; palavras ricas que revelam tanto de mim a mim.

Tantas foram usadas para falar de primeiros beijos, ou de eufóricos momentos de carinho, também de hiperbólicas paixões de verão. Faço-me terapêutico nessas leituras. Repenso esses beijos todos, esses tantos que ainda arranham um pouco minha boca, e vejo que certamente eu sou um entusiasta do sentir. Experiências tantas que mesmo saindo no atropelo de sensações tão trêmulas são reveladoras.

Sorrio para partes de versos, repenso se vale a pena ter me desnudado tanto, fomento a necessidade de ser eu mesmo, assim como a de ser água. Alguns versos eu queria rasgar também, mas pensar em extirpar a palavra é pensar em atear fogo a uma fotografia guardada no fundo do meu guarda-roupa, digo-me logo um deixa ali, é parte de mim, aquele momento da foto-palavra foi outrora digno de materialização.

Os poemas que me esclarecem as raízes são de uma importância tremenda: é neles que eu identifico a estrutura óssea do caminho que sigo, ou do que insisto em seguir. E me faço esse bem, me escrevo e me leio, sem a necessidade do olhar do outro por enquanto; levo minha arte como sei que posso: um diário de pessoalidades que compartilho comigo o tempo inteiro, e que quando lido por mim ou por outros, ainda assim é meu, e não sei escrever sobre nada além daquilo que me atravessa.

E nesse caminho me descubro um bocado, dos afetos aos desamores. Das demasiadamente exageradas palavras de amor ou dor ao mais claro desvendar do cotidiano.  E é aí onde me demoro. Onde me encontro. E só sei me demorar em mim. 

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