terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Poesia (24.6)

Antropofagias Seculares


Diluíam-se em meio à música
Crianças altas
Segurando garrafas de cerveja
E emitindo sons de seus corpos.

Adultos encurtados
Observavam os andares e passadas;
De uma distância segura
Estimava-se que o mundo não mais girava.

O som se eleva;
Os corpos não param
Mas vão ao chão devagar.
As garrafas de cervejas foram logo,
No sangue estavam
Mas nem por todos os corpos
Circulavam.

As crianças altas existiam;
Não sempre,
Mas naquele momento principalmente,
Elas existiam plenamente
Cobertas de consciência,
Envoltas em cegueiras
E absurdamente
Antropofágicas.

Mordiam umas às outras.

À vista de todos os adultos
As crianças babavam.
Grunhidos se espalhavam à música
E os adultos tinham olhos:
Enxergavam sem auxílio.

As crianças altas
Queriam ser.
Do puro ensinamento
À plenitude do estar.

As crianças altas
Antropofagicamente
Estavam sendo
Umas nas outras.

Poesia (24.5)

Afrouxamento

As relações se afrouxaram.
Cambalearam para as montanhas
E lá se tornaram restritas
À natureza.

As relações humanas
Encontram-se asfixiadas,
Rarefeitas,
De um contato pigmentado.

Estão frouxos os que amo.
Temores invadem,
Descuidos,
Tropeços.

Outrem.

As relações comigo
Estão afrouxadas.
Passos trôpegos,
Temendo rapidez,
Excedendo rispidez.

Consciência invadida!

Que se apertem as relações.
Encurtem espaços.
Promovam

Encontros.

Poesia (24.4)

Eles

Tantos poucos foram
Que conto nos dedos
Das mãos que me apertaram
O pescoço e lábios.

Repetiria os beijos todos,
Os dados e os desejados.
Os sonhados não,
Os sonhados estão na gaveta
Juntando poeira e dançando
Juntos às meias sem par.

Escreverei e escreveria
Todas as cartas de amor,
Todos os poemas,
E todos os nós na garganta
Que se assinam
Com a vontade de lembrar.

Imaturidade ou desespero,
As estrelas,
O destino.
Tenho certezas em vida.
Amei demasiado aqui e ali.
Dedico a esses amores
Os calafrios que as borboletas
Insistem em pincelar
Em meu estômago.