quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Poesia (4.8)

Casa Suja, Chão Sujo

Calada, reclusa, morta por dentro.
Sem nada a acrescentar.
Uma mulher centrada.
Centrada em fazê-lo feliz.
E faço isso muito bem.
E faço isso melhor do que ninguém.

Ser aquela atrás do grande homem
Nunca me foi uma tarefa fácil.
Lavar-passar-arrumar-cozinhar.
Servir.
Ser a que serve.
A que mantém.
A que sustenta.

Aprendi a mentir com um sorriso no rosto,
A sofrer gargalhando,
A morrer de olhos abertos.
E a fugir sem deixar pistas.

Mas na calada da noite eu sempre volto,
Porque não sei mais viver sem isso,
Não sei como se vive sem mentiras
E fingimentos.
Minhas mentiras me tornaram o que sou.
E não há verdade nenhuma nesse mundo
Que possa mudar isso.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Poesia (4.7)

Peito

Não bata.
Não faça nada.
Não se mova.
Não me dê esperanças.
Não me deixe vivo.
Não me queria bem.
Não me faça querer-te bem.
Não bata, por favor.

Não quero teu sangue
Nas minhas veias sujas.
Isso me faz mal.
Contradiz tudo que eu faço.
Não quero estar vivo.
Não quero estar estável.
Quero estar morto
E mutável ainda assim.

Voltar no tempo
E achar que era feliz.
Me arrepender de ter deixado você bater.
Não posso.
Não posso permitir que você estrague meu mundo.
Não vou deixar que o meu coração
Bata pra mais ninguém.
Porque ele já encontrou o ritmo certo.