quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Poesia (3.7)

Meu Luxo é Ficar no Lixo

E eu me sinto sujo.
Sujo, imundo.
Impregnado por essa podridão,
Por essa falta de respeito,
Essa falta de respeito comigo mesmo.
Essa sujeira que eu mesmo crio.
Esse lixo que eu mesmo como.
Esse mal cheiro com o qual eu mesmo me perfumo.
Quero me ver livre disso.
Quero me ver limpo.

Limpeza que eu não acho,
Que eu não procuro, sendo sincero.
Limpeza que esbarra na minha vontade própria,
Na minha auto-estima.
Limpeza que eu prefiro deixar de lado
Para permanecer sujo por algum tempo.
É cômodo.
É fácil.
Fácil demais manter-me desse jeito.

Quero que tudo mude
Mas não quero mover um dedo.
Quero que todos mudem
Mas talvez isso me dê medo.

Quero, depois de limpo, manter-me assim,
Pois limpar toda a casa
E entrar com os pés enlameados
Não vale a pena.

domingo, 10 de outubro de 2010

Poesia (3.6)

Sonho do Beija-Flor


Me balanço deitado a essa rede
Suspensa no ar
Como um beija-flor.
Sob essa luz trêmula, fraca e adocicada
Eu olho de longe a minha vida acontecer.
E permaneço deitado...

Um cheiro mole e amargo sobe à minha vista.
Levanto da rede mais por curiosidade do que por vontade de mudar.
Vejo seis pessoas.
Vejo minha família.
Todos reunidos, vestindo roupas que nunca vi.
Circundam algo.
Não sei o que é.
Ando mais alguns passos.

A rede parece longe
A luz tremula mais e mais
O vento uiva baixinho em meus ouvidos:
“Morrestes...”

Me vejo deitado numa rede suspensa no ar.
Vejo que a luz tremula sem parar e agitada.
Pela última vez, vejo meu rosto e ele não está mais vivo.

E a rede cai
E a luz se acende
E eu acordo por fim...