quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Poesia (32.7)

cavalo-marinho

tirar da cabeça
com esforço hercúleo
~o mar
que invade em ondas.

sexta isso passa
a praia está lá
sexta isso passa
o mar não vai secar.

se é sede
água
se é fome
comida
se é outra coisa, meu bem
encontra nome
antes que crie raiz

o mar é profundo
o tempo nem tanto.

domingo, 30 de abril de 2023

Poesia (32.6)

um amar parecido com o de marília pêra lendo drummond

há o mar aqui comigo,
e o vento também,
por que não?

os barcos flácidos,
as ondas amorfas,
as sereias afônicas,
e as pedras tétricas.

há o mal aqui comigo,
e o mau também,
por que não?

os desejos pérfidos,
as vontades sórdidas,
os contratos tácitos,
e as volúpias mórbidas.

há o outro aqui comigo,
e eu também,
por que não?

os olhares átonos,
as cabeças metálicas,
os corações platônicos,
e os abrazos rotos.

há o tempo aqui comigo,
e o espaço também,
por que não?

as horas frouxas,
as cadeiras bambas,
os momentos estáticos,
e as lembranças antológicas.

há muito aqui comigo,
e quase nada também,
por que não?

minhas paixões honorárias,
meus amores inúmeros,
meus gatos quádruplos,

e minha poesia.

Poesia (32.5)

um amor que bate na aorta parecido com o de drica moraes lendo drummond

amar é, antes de tudo, escolher amar.

paixão toma estádio,
lota festa,
embebeda corpo.
de manhã é ressaca,
é dor de coluna,
é gozo também,
mas é arroubo tomado.

amor é bicho-diário,
que tem que botar comida no pote e dar banho.
escrever palavra na parede.
plantar tâmaras.
colher noutra vida e nessa esperar a colheita
dos amores de outrora.
também.

amor pede alegria,
nem todo café é só amargo.
escolher o que fazer da vida é escolher a vida,
e é escolher o pra sempre todo dia.

amar é escolher amar.

Poesia (32.4)

domingo, dia trinta do corrente

ser surpreendente.

deixar ser surpreendido.

num dia morno de chuva,
o amor é um espanto.

Poesia (32.3)

haikai de terra

o touro dorme.
descansa juventude.
eu olho com carinho
o som.

sexta-feira, 14 de abril de 2023

Poesia (32.2)

sobressalto

eu já disse que te amo
algumas vezes
com os olhos.

só com eles.

ou com as mãos.
só com elas.

ou com o sexo,
sempre ele.

você já ouviu eu dizer
que amo suas partes
por inteiro.

você já leu eu declarar
meu amor
ainda que sem freio.

eu já falei de amor
com você por perto,
do lado,
por dentro.

eu já lhe chamei de amor
em casa,
na cama,
no centro.

eu rimo pouco,
mas faço música na tua pele.
eu fico impressionado com o amor.
eu fico.

sou eu.

você me diz que é meu,
eu te digo que sou teu,
e somos um do outro
enquanto
eu
em espanto
tenho certeza
que te amo.

Poesia (32.1)

rubrica

(palavras para serem ditas em voz grave. não é canção. é monólogo.)

no sofá do meu quarto
eu amo
(`)
a noite.

eu odeio
(`)
a noite.


Poesia (32.0)

hario v60

vou dormir
te amando.

acordo querendo café.

passo o dia te amando.

Poesia (31.9)

relâmpago

todas as minhas pessoas
poéticas
amam.

muito.

semelhantes a mim.
todos amam
o amar.

quarta-feira, 5 de abril de 2023

Poesia (31.8)

haikai duma surpresa de amor

duas escovas de dente
onde antes
era uma.

quinta-feira, 30 de março de 2023

Poesia (31.7)

o que talvez venha a ser, já o é também

hoje me peguei pensando
com o coração.

que horror brutal que é.

coração não faz sinapse,
só sinopse fílmica.

uma fera em festa num mar.

na pele do mar
gasta
o amor.

eita palavra que recorre
às sinopses do coração.

já faço música e poesia
debaixo d'água.
já chamo um nome
sozinho
pra mim. 

amor.

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

Poesia (31.5)

frustrações que traz o mar

queria falar de amor
sem que você soubesse.

queria mesmo
falar de amor
sem que você pudesse ver.

que tivesse escuro,
que tocasse música,
que falassem baixo,
que mostrassem fotos nossas,
mas que você não soubesse.

queria falar que te amo
sem parecer maluco.

queria mesmo
falar que te amo
sem que você me visse doido.

que você me olhasse com carinho,
que você me tocasse o rosto,
que você pegasse minha mão,
que você pusesse torta de maçã pra gente comer.
e que ficássemos ali,
bem ali,
do lado de fora,
no fim de uma tarde mais quente que o normal
(de tanto café que a gente tomou),
e que dormíssemos juntos mais uma noite,
e que essa noite durasse um bocado.