terça-feira, 10 de setembro de 2013

Poesia (19.7)


O Pecado Original

Estraçalhado no chão
Formigas ocupam
Seus lábios sujos,
Seu peito farto,
Suas costas nuas,
Sua barriga cheia,
Suas mãos culpadas...

...
...
...

A Primeira Culpa

Com dedos ágeis
Fora em busca de alívio,
Da dor que emerge à noite
Dos calafrios que a madrugada traz.
Procuraram o onde
Procuraram o quanto
E o o que.
Acharam todos,
Conseguiram.

A espera balançava
Seus dedos finos
Sob as mãos fervorosas.
O telefone toca,
Está chegando.
As mãos correm para fora
Da casa
No fim da viela
Uma luz única
E um ronco de morte
Uivando a madrugada quase imersa
Naquele desejo fugaz.
É o senhor?
Pergunta o ronco,
As mãos respondem
E carregam o peso do sabor
Mais rápidas do que nunca
Vêem o erro,
Ignoram-no e voltam pra casa.
Já lá dentro
Com seu ouro branco precioso
Começam os trabalhos.

Vai de uma vez, pensam.
Derramar tudo.
Colocar no mesmo.
E terminar em segundos.
Não.

A anatomia não permite essa pressa.
Lambuzaram-se as mãos grandes
Não deixando nada para trás
A não ser o novo,
O silencioso e novo
Arranhão vago nas costas.
As listras vermelhas na barriga,
A falta de delineamento dos traços,
E o coração já amarelado molenga.

...
...
...

Estraçalhado no chão
Formigas ocupam
Seus lábios sujos,
Seu peito farto,
Suas costas nuas,
Sua barriga cheia,
Suas mãos culpadas
E o gosto da culpa
Em sua boca oleosa.