O Pecado Original
Estraçalhado
no chão
Formigas ocupam
Seus lábios
sujos,
Seu peito
farto,
Suas costas
nuas,
Sua barriga
cheia,
Suas mãos
culpadas...
...
...
...
A Primeira Culpa
Com dedos
ágeis
Fora em
busca de alívio,
Da dor que
emerge à noite
Dos calafrios
que a madrugada traz.
Procuraram o
onde
Procuraram o
quanto
E o o que.
Acharam todos,
Conseguiram.
A espera
balançava
Seus dedos
finos
Sob as mãos fervorosas.
O telefone
toca,
Está chegando.
As mãos
correm para fora
Da casa
Vê
No fim da
viela
Uma luz
única
E um ronco
de morte
Uivando a
madrugada quase imersa
Naquele desejo
fugaz.
É o senhor?
Pergunta o
ronco,
As mãos
respondem
E carregam o
peso do sabor
Mais rápidas
do que nunca
Vêem o erro,
Ignoram-no e
voltam pra casa.
Já lá dentro
Com seu ouro
branco precioso
Começam os
trabalhos.
Vai de uma
vez, pensam.
Derramar tudo.
Colocar no
mesmo.
E terminar
em segundos.
Não.
A anatomia
não permite essa pressa.
Lambuzaram-se
as mãos grandes
Não deixando
nada para trás
A não ser o
novo,
O silencioso
e novo
Arranhão
vago nas costas.
As listras
vermelhas na barriga,
A falta de
delineamento dos traços,
E o coração
já amarelado molenga.
...
...
...
Estraçalhado
no chão
Formigas ocupam
Seus lábios sujos,
Seu peito
farto,
Suas costas
nuas,
Sua barriga
cheia,
Suas mãos
culpadas
E o gosto da
culpa
Em sua boca oleosa.